Sly and The Family Stone

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por Marcos Rodrigues

1967. Um álbum de estréia de um combo multirracial chega à cena pop. Num cenário de subculturas rock'n'roll carente de batidas novas e de novos sons. Mas ninguém estava realmente preparado para a mágica e o mix musical multifacetado de Sly and The Family Stone.

A sua música foi inspirada num 'blend' de rock, soul, pop, jazz e de um gênero emergente que em breve seria conhecido como funk. Isto resultou num poderoso pacote de coisas que sempre se desejou em música; a emoção do novo, a excitação do inesperado, um groove galvanizado e letras que ainda hoje fazem sentido. Entendam; não havia precedentes para Sly and The Family Stone.

Formado em São Francisco, Califórnia o grupo era composto por Sly Stone, Freddie Stone, Rosie Stone, Cynthia Robinson, Jerry Martini, Larry Graham e greg Errico. Antes da banda, Sly estudou trompete e foi Dj nas rádios KSOL e KDIA

Em 67 grava o primeiro single com o nome Sly and The Family Stone, 'I Ain't Got Nobody', mas o sucesso começa mesmo quando se movem para o selo Epic e lançam o álbum 'A Whole New Thing', que continha o hit 'Dance to The Music', Top 10 nos Estados Unidos e no Reino Unido. Em 1969, Sly solta o álbum 'Stand', um set que continh as canções 'Everyday People', 'Sing A Simple Song', 'Don't Call Me Nigger, Whitey', 'Sex Machine' e 'I Want To Take You Higher'. Vendeu 2 milhões de cópias.

Com o sucesso vem também os problemas. O envolvimento com drogas pesadas leva Sly a desmarcar várias apresentações. Ainda assim a efervescência criativa não para. EM 1971, o album 'There's A Riot Goin' traz a belíssima canção 'Family Affair', número um nos charts de rythm'n'blues norte americano.

Os problemas de Sly com cocaína aumentam e a banda começa a perder força. Logo em seguida Larry Graham deixa o grupo e monta o Graham Central Station. Na sequência foi a vez de Andy Newmark substituir Greg Errico.

As décadas seguintes viram uma série de artistas com influências diretas de Sly, como Prince e Terence Trent D'Arby e mais a combinação de eletrônica e hip hop, em artistas como Public Enemy, sampleando diversas bases da Família Stone.

Os problemas com drogas levaram Sly para a cadeia em 87, por porte de cocaína. Mas essa é a parte triste. O mais importante é a enorme importância da maravilhosa música criada; os grooves 'entorta-gangote', as linhas de baixo em golpes no baixo ventre e as melodias; ah, as melodias! Coloque 'If you want me to stay' num encontro com o sexo oposto e faça a sua parte; Sly and The Family Stone cuida do resto.

Para quem quer começar (bem) a adentrar nesse mundo musical pode começar com a caixa de 2 cds 'The Essential Sly & The Family Stone', que foi lançado em 2003 e tem uma bela seleção de 35 músicas do melhor de Sly and The Family Stone. Altamente recomendável.


Discografia

A Whole New Thing (Epic 1967)
Dance To The Music (Epic 1968)
Life (U.S.A.) / M'Lady (U.K.) (Epic / Direction 1968)
Stand! (Epic 1969)
There's A Riot Going On (Epic 1971)
Fresh (Epic 1973)
Small Talk (Epic 1974)
High On You (Epic 1975)
Heard Ya Missed Me, Well I'm Back (Epic 1976)
Back On The Right Track (Warners 1979)
Ain't But The One Way (Warners 1982)

Tim Festival 2006

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Pequenas impressões de um grande festival

por Thiago Fernandes


Finalmente, estamos aqui
“Nós somos irmãos”, foi o recado do meio brasileiro baterista dos Strokes, Fabrício, para a platéia do Tim. Isso depois de nos dar um presente realmente fraternal: um show inesquecível. A espera de cinco anos por uma apresentação em terras canarinhas valeu a pena, afinal. Como nos discos, funcionam muito bem ao vivo. Toda a força do som que (mais uma vez) resgatou o rock está lá em cima do palco. E na platéia. Grande parte do show estava na devoção um tanto anestesiante dos fãs, que acompanhavam religiosamente as canções, mesmo as novas, que já se espalharam pelas redes peer-to-peer. Tudo muito bom e muito perfeito. Para finalizar, um tris. Depois da primeira e tradicional volta ao palco, milhares de palmas e pés incansáveis clamando pelo segundo retorno, atendido com um aviso: “só uma música”, no caso, I can’t win. Não é o caso do Strokes, que já venceram e vieram ao Brasil somente mostrar como é doce o gosto da vitória.

A queda dos reis
Leia o comentário sobre o show dos Strokes e inverta. Foram os Kings of Leon no Tim, a grande decepção do festival. Burocrático, fraco, sem tesão. Frustrante, enfim. Sem mais comentários, fique com os discos, que trazem os Reis em muito melhor performance do que no palco do Tim.

Triste beleza
A tristeza e a alegria que se alternam durante o disco de estréia do Arcade Fire estão no show. Mas não como em uma montanha russa emocional, mas sim juntas em todos os momentos. É estranho, mas ao vivo, a sensação é que toda a tristeza das canções do disco dedicado ao companheiro que morreu durante as gravações é o combustível para uma celebração à vida. No palco, sete pessoas felizes pela oportunidade de estar cantando. E só. O resto é mis en scene. Mas muito bem feita, diga-se de passagem. O carrossel de instrumentos é fantástico, com trocas de posição ao longo do show. Ninguém é dono de nenhum instrumento e a cada canção, a banda tem um formação diferente. Um circo que faz parte do espetáculo que é o show do Arcade Fire. Indie até a alma, durante o show, o grupo estava visivelmente impressionado com o coro de quase 2 mil pessoas de um país tão improvável quanto o Brasil, aonde certamente nunca pensaram em se apresentar quando o sucesso que faziam não ia além do Calypso de Montreal.

A vez dos grandes
Rival dos Strokes na categoria “melhor show do festival”. Os anos de estrada, no entanto, fizeram a diferença. O Wilco fez um show de gente grande, com direito a recado para os garotos e para a platéia que : “é assim”. Recado que já se lê nos discos. A dosagem correta de peso, distorção e experimentação da banda estava ainda mais refinada em cima do palco. O maior trabalho foi terminar o show. Depois de assistir meio boquiaberta, a platéia mezzo indie (o Wilco tocou logo após o Arcade Fire) não arredou pé enquanto a banda não voltou pela segunda vez ao palco. Lindo.

O peso dos anos
Tom Verlaine já não agüenta mais tocar I See No Evil. Deixou isso bem claro no show do Tim. Show correto, como não poderia deixar de ser para quem tem um nome a zelar, mas sem a força que se deveria esperar de uma banda do quilate do Television. O prazer de vê-los ao vivo deveria ser maior do que apenas testemunhar um grupo que marcou a história do rock’n’roll. Faltou aquela sensação mágica de que se estava diante de algo único na vida. A impressão é que o grupo está realmente estagnado e nesse caso só há duas opções: ou retomar a criação, com toda a responsabilidade de continuar uma discografia que inclui um disco tão sensacional quanto Marquee Moon; ou acabar de vez a banda e viver das glórias do passado. Sad but true.