Atenção, senhores passageiros

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Fábio Cascadura, pronto pra luta de todo o dia

por Marcos Rodrigues

Ultimamente tem sido bastante comum ouvir e ler por ai que Salvador passa uma fase fértil e profissional na cena rocker. Os motivos para tal certeza nos leva invariavelmente para a performance de bandas baianas. Nunca se gravou e lançou tantos discos, nunca se lançou tantos videoclipes, nunca se teve tanta qualidade técnica e condições satisfatórias de registro, nunca tantas bandas tiveram repercussão no cenário nacional. O quadro, no entanto, para longe de nos autorizar um obaoba generalizado, merece um debate um pouco maior e uma análise menos emotiva, até para que possamos extrair o que, de fato, existe de consistente na atual cena. E talvez possamos tentar a empreitada por dois ângulos, ou melhor, por duas aproximações: uma global e outra local.

Salvador, como amostra do que acontece no Brasil inserido à fórceps na economia globalizada, ainda que empobrecida economica, politica e culturalmente, é uma cidade grande. E não necessariamente, nos dias que correm, uma grande cidade. E, como cidade grande, de quase três milhões de habitantes, não passou incólume às consequências da nova revolução tecnológica que potencializou os processos de informação e comunicação. Essa estória, como todos sabemos, ancorada diretamente na lógica do capitalismo avançado, dito global, diminuiu distâncias, acelerou a circulação de informação e, ainda que pesem consequências perversas, democratizou tecnologias. A internet é só a ponta mais visível desses tempos.

Os ventos neoliberais que chegaram no Brasil já haviam legado ao rock'n'roll nacional, no ínício dos anos 90, a possibilidade de acesso aos instrumentos importados, com a queda das alíquotas para importação. Sim, Fernando Collor. Até então, quem não tinha pai rico, montava bandas com cópias baratas de guitarras Fender e Gibson, à cargo das fábricas brasileiras Giannini e Golden, respectivamente.

A abertura do mercado nacional dessa época trouxe também a MTV e com ela o acesso à música pop do mundo para milhares de garotos. O que seria de boa parte do rock de Salvador nos 90 sem os videos do Red Hot Chilli Peppers e do Rage Against The Machine? O que antes passava pela troca frenética de fanzines em xerox entre iniciados - Spunk, Horda, Le Café Noir e outros, nas mesas do bar PABX, na Faculdade de Comunicação da UFBa, nos idos 80 - vira acesso instantâneo, ainda que filtrado, a um simples toque na tv. Até aqui, nada que Salvador tenha de particular ou mérito em relação às outras capitais do país. Essa é uma 'conquista' passiva. Em paralelo o governo ACM se consolidava e expandia para níveis astronômicos a sua trilha sonora; a axé míusique.

O avanço da tecnologia digital no campo do áudio no final dos 90 trouxe uma verdadeira revolução. O surgimento de softwares como Protools, Cakewalk e Cubase colocou nas mãos de muitos o que antes era questão de 'bens de produção' ou 'capital industrial' sob os poderes de poucos, nos dizeres do velho Marx. Os enormes estúdios de gravação migraram para a tela de um computador pessoal, logo, para o acesso de leigos e de uma garotada sedenta. O processo de registro barateou de forma abrupta, bem como as condições para se produzir tudo isso com qualidade. A outra ponta desse negócio, que é a distribuição, veio na esteira da popularização da world wide web, do aumento das bandas largas e do advento dos protocolos de compressão dos arquivos de áudio, onde o mais conhecido é o mp3. Ora, tudo isso também sabemos e as grandes gravadoras mais ainda :) Mas, onde estão mesmo os méritos de Salvador?

No âmbito local é também necessário se olhar para além do próprio mundinho. Para infelicidade geral essa última década revolucionária foi também o período que o terceiro reinado de ACM se consolidou e arrastou consigo estruturas milionárias para a música que lhe interessava. Aquela mesma que alguns estudiosos dizem que emana do povo, que não é elitista e blá blá blá. E financianda, via grupos de comunicação, produtoras de eventos e órgãos de governo, a axé míusique virou um Golem, hegemônico e exclusivista. E assim, no mesmo momento que uma cidade menos importante que Salvador - historicamente, até - como Recife, conseguia se libertar do frevo Vassourinha e fazer barulho suficiente para virar um 'selo de qualidade' na música pop e ganhar o mundo, o rock de Salvador amargava nos porões devidamente tachado de música de revoltados, amadores e incompetentes. Sem espaço nas rádios, sem um festival de expressão, sem palcos.

Onde estamos agora e o que mudou para nos autorizar a dizer que novos ventos estão soprando? Pouca coisa. Primeiro, é fato que, já há algum tempo, a música de carnaval expandida para o ano inteiro, dá sinais de exaustão. E fato, também, que isto está ligado à exaustão do império carlista. O judiciário já não é tão subserviente, o governo Lula não é exatamente um parceiro, novas lideranças emergem e esfacelam um poder centralizado etc etc etc. A explosão de faculdades privadas, ainda que sofríveis, têm mudado um pouco o perfil do baiano médio, que passa a ter contato com professores qualificados, o que leva a uma mudança no consumo de 'bens culturais'. Em que pese o xilique de uma esquerda retrógrada, a verdade é que as pressões do mercado mundial deixa o cenário cada dia mais difícil para estruturas coronelistas regionalizadas. Tudo é muito mais fruto de um movimento de fora pra dentro. Ainda assim a Cidade da Bahia acompanha tudo muito lentamente.

Por tudo que foi visto, é claro que a cidade tem mais bandas de rock gravando e circulando sua música, assim como o restante do país. Nada de mais, nada para nos rejubilar. Ao contrário. Fora as condições de registro e distribuição, estamos pior que em outras épocas e continuamos piores do que muitas cidades do nordeste. Os espaços em Salvador continuam fechando; nosso rock'n'roll está restrito a uns poucos horários nas rádios; temos uma única loja, combatente mas cambaleante, para escoar a produção pop alternativa; as bandas locais, na melhor das hipóteses, atraem, sozinhas, um público de 400 pessoas (e isso é comemorado). Isso numa cidade que tem Cascadura e Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta. Citar a cena de metal não ajuda em nada porque essa é, sabidamente, um mundo à parte em todo o planeta. E, para completar, a crítica musical 'alternativa' por aqui é, com raras exceções, a cara da cidade hegemônica; aquela que afaga os amigos e que não tem nenhuma consistência de análise.

Todo o mérito para as bandas que têm furado o bloqueio e conseguido com as condições atuais se projetar para fora da cidade, ainda que, pelo modelo independente, poucos tenham ido longe. Esperamos o Cascadura, esse mês com cd encartado na revista Outra Coisa. Mas ai é, mais do que nunca, se inserir no mundo e Salvador vira só uma pequena incubadora. Ao final, a saida para o rock de Salvador ainda está longe de ser outra: o aeroporto.

Vamo batê lata?


Paralamas e Los Hermanos, sob as bençãos da mpb

por Marcos Rodrigues

Há 20 anos, desde que música pop feita no Brasil começou a fazer sentido para as lógicas de mercado, que uma cruzada paralela foi montada por nobres cavalheiros, zelosos que são, para não perdermos os rumos da nossa, lá deles, 'identidade' musical. Eram meados dos 80 e os ecos atrasados da revolução de 77 ameaçavam o lugar tranquilo e confortável da soporífera MPB.

Armados com os discursos da latina américa colonizada, mas que não perde la ternura jamais, e amparados pela nascente ladainha dos Estudos Culturais na Terra Brasilis, cortesia do antropólogo Hermano Viana (sim, irmão do Herbert), um corolário que decidia onde estavam nossas raízes preconizava a legitimidade dos nossos sons no tripé Jamaica, África, Bahia. A mais reluzente das trilhas sonoras desse enredo se chamava 'Selvagem', dos Paralamas do Sucesso.

Engrossando o caldo, um apadrinhamento dos 'pretos' brasileiros blindavam os que faziam a 'música adulta'. Um pouco de Gil, outro de Tim Maia, outro tanto de Benjor. Agora sim, diziam. Habemus rock brazuca. Não importava se Tim, por exemplo, fazia música norteamericana. E muitos se sentiram perdendo o bonde da história. Aquele mesmo que um dia foi parar em Recife.

Madagascar, Olodum, Alagados, Trenchtown, Favela da Maré. A arte de viver da fé. Só não se sabe fé em quê. E assim, cantando a periferia do mundo, os Paralamas que também vieram da jeunesse dorée formada por filhos da aristocracia de Brasília, e que montaram uma banda por que um dia escutaram os ingleses do Police, Clash e UB40, nos diziam o que era o Brasil. Revelação marcante esses dias na revista Bizz; os rumos haviam mudado quando viram Luis Caldas cantando 'Fricote' com Carlinhos Brown na percussão, em cima de um trio elétrico: eureka! Uma razão para viver, uma culpa para expiar.

Não é de hoje que a penúria desses tristes trópicos faz essa gente bronzeada ter que procurar seu valor. Oswald de Andrade e o Manifesto Antropofágico, Macunaíma, Tropicália, Maracatu Atômico, Paralamas, Mangue Beat, Regina Casé...A cruz judaico-cristã deve explicar porque só é Brasil de verdade o que é próprio da condição terceiromundista, a saber, aquela dos fracos e oprimidos.

Vamo batê lata? No, thanx.

O hype nosso de cada dia

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Arctic Monkeys, a 'banda' dos últimos 15 minutos

por Miguel Cordeiro

Não é das tarefas mais fáceis definir com precisão o que seja Pós-modernismo. Cada teórico tem uma explicação própria e embasada sobre esse assunto. Uns sinalizam como algo criado numa época em que os dogmas modernistas do início do século 20 não mais se aplicam. Outros como algo repleto de referencias da trajetória da cultura com um quê de alegórico e com possibilidades de reprodução múltiplas.

Mas existe um fenômeno que dos anos 1990 para cá recrudesceu e se tornou típico da era pós-moderna que é o caráter cada vez mais efêmero e passageiro de determinada “coisa” cultural. Algo assim como o que foi profetizado por Andy Warhol naquela sua máxima de que no futuro as pessoas seriam famosas por apenas quinze minutos. E é daí que vemos proliferar o tal do “hype”.

O hype é aquele famoso endeusamento que gira em torno de alguém ou de um trabalho por um período de tempo e que, quase sempre, não se falará mais nele no próximo ano ou será esquecido nas próximas estações. O certo é que na música pop (incluindo aí o rock, claro) é onde esse fenômeno do hype se faz mais presente entre todas as manifestações culturais dos nossos dias. A cada momento alguém ou algum grupo é elevado à categoria “da melhor coisa dos últimos anos”. E se esta afirmação parte de algum órgão ou personalidade incensada da imprensa musical, de preferência londrina, todo mundo dá respaldo ao que foi dito. E engraçado é a forma como este fenômeno se manifesta em lugares provincianos – Brasil, por exemplo, onde colunistas quase sempre deslumbrados correm atrás da “novidade” da metrópole e macaqueiam e copiam ipsis letteris aquilo que lêem nos tablóides londrinos. E mais surpreendente ainda é que esta cadeia de deslumbramento se espalha na província onde os formadores de opinião regionais, por sua vez, macaqueiam e transcrevem ipsis letteris aquilo que leram nos cadernos de cultura do sul do país. Os comentários elogiosos se repetem sucessivamente saindo da esfera da matriz e chegando aos redutos regionais com as mesmas palavras e considerações.

Alguém ainda lembra do Libertines? Saudada como a oitava maravilha do rock poucos anos atrás pelos tablóides ingleses e colunistas musicais brasileiros, o grupo viu sua reputação cair por terra quando se apresentou num festival em São Paulo onde ficou comprovado ser uma banda extremamente limitada. E será que Neil Young seria ouvido pela geração Nirvana não fossem os elogios da turma de Seattle (uma das cenas mais hypadas da história do rock) ao roqueiro dinossauro? Um segmento que também teve um hype intenso foi o indie rock, sendo que algumas dessas bandas ainda são muito incensadas mesmo lançando álbuns medíocres.

Outra premissa para ser devidamente hypado é a pretensão demasiada de um determinado trabalho. Aquela velha história de querer reinventar o rock tem um forte apelo e muito agrada aqueles que procuram “arte” na música pop. E aí hypados também são as misturebas, os “novidadeiros”, os que buscam influências exóticas e, os piores de todos que são aqueles que se julgam artistas sérios.

O cinema, também, tornou-se um fator que ajuda a se criar um hype em cima de um estilo ou uma personalidade. O que seria da contagiante surf music não fosse o Pulp Fiction de Tarantino? E o hype em cima de Bob Dylan por causa do documentário No direction home, de Martin Scorcese? Quantos jovens roqueiros antenados antes torciam o nariz para Dylan, tachando-o como “aquele chato cantor caipira da voz fanha”? E quantos outros passaram a admirar o sertanejo fora-da-lei Johnny Cash em decorrência dos seus albuns produzidos pelo hypado Rick Rubin? O que prova que nem tudo que é hype seja necessariamente passageiro e ruim. Pixies, White Stripes, Strokes são artistas incensados, mas construíram ou estão construindo uma poderosa obra que justifica o ôba-ôba em torno deles.

Mas o que falar de outros de maior grandeza que não se encaixam neste deslumbramento midiático? Figuras como Van Morrison e Joni Mitchell parecem que jamais serão tratados com a mesma deferência que se dispensa a hypados como Beck ou PJ Harvey.

E a lista é grande e não pára por aí. E não deixa de ser hilário acompanhar e observar a sucessão de grupos e artistas que se alternam no topo do hype, numa versão pós-moderna da tragédia que retrata uma “ascenção e queda”. Portanto, ouvidos atentos e bolsos recheados porque agorinha mesmo, neste exato momento, uma nova sensação musical está surgindo e aquele CD que você comprou daquela banda hypada da última primavera/verão de Londres já não faz mais nenhum sentido.

Mustang, mudando sempre pra melhor




por Cláudio Moreira

Em tempos de pós-rock iluminado pelos horizontes da contemporaneidade pop internacional, a banda carioca Mustang prossegue em sua trajetória independente e, sobretudo, inusitada em terras brasileiras. Nem trafegando na contramão, nem na dianteira. Apenas viajando livre e solta em seu caminho autoral, buzinando ao ultrapassar modismos de todas espécies.

Longe dos holofotes da grande mídia, o grupo plasma novos/velhos/reciclados caminhos bem resolvidos esteticamente, a fim de que o rock nacional atinja patamares de significativa qualidade artística, carregando consigo, sem soar datado e sem personalidade, a herança de tempos heróicos de bandas, como o Made in Brazil, O Peso e Patrulha do Espaço e muitas outras referências daqui e de fora. Liricamente, no entanto, a banda está muito, mas muito além, desses nomes citados. Carlos Lopes, mentor da Mustang, acertou a mão em cheio no cd "Tudo está mudando mas nem sempre pra melhor" (Monstro Discos), atingindo uma sonoridade atemporal e reunindo boas composições, além de uma produção precisa. Uma combinação de qualidades menos perceptível nos trabalhos anteriores: Oxymoro (mais intimista e eclético) e Rock´n´roll Junkfood (som garageiro tosco).

Esse cd é a prova derradeira de que é possível fazer um rock pesado adulto e inteligente, em português, de forma profunda e acessível ao mesmo tempo. Enfim, biscoito fino indicado aos ouvidos iniciantes e iniciados e disponível no mercado alternativo. É lamentável que, por falta de uma divulgação pulverizada, o "Tudo..." não tenha ainda encontrado um público abrangente. Quem sabe, um dia, vamos ver Carlos Lopes e sua trupe desfazer esse "nó" mercadológico. Porque, por mais incrível que pareça, existe muito modismo às avessas no universo rock underground no Brasil.

Se o mainstream é cruel com a liberdade criativa, é no meio alternativo em que se percebe que o reverso, necessariamente, não acontece. Visto que os artistas elevados ao panteão do pop/rock alterna são escolhidos por parâmetros pra lá de subjetivos. Assim sendo, é recorrente que se cometam injustiças seletivas nesse processo.

Com certeza, por méritos puramente artísticos, a Mustang deveria ter muito mais visibilidade junto ao público. Quem sabe, a dialética entre "música de qualidade X lógica de mercado" será ultrapassada ao som do ronco do motor rock"n"roll da Mustang cor de sangue. A lista de artistas de diversos gêneros musicais, que passam pelo mesmo tipo de vivência, é grande. Porém, a acomodação não cabe no idealismo daqueles que pretendem superar as barreiras para alcançar não o sucesso, mas a solidez de uma carreira embasada no reconhecimento.

Levante – O velho canto heavy metal acelerado, de outros tempos, ressurge, sem cerimônias, na abertura do cd "Tudo..." em "Geração Perdida". Essa música versa sobre a desilusão dos "...últimos com ideologia...que ainda pensavam...", pois eles sonhavam com a democracia. Mas como, infelizmente, constatam que, "sociólogo ou operário são faces do mesmo mal", são invadidos pela sensação de desencanto e dizem que vão "botar pra fuder!". Ao final, a letra sinaliza para uma imaginária cena futurista de caos insurrecional jacobino verde e amarelo em busca de paz, liberdade e fraternidade porque "nova Bastilha será, nova Bastilha será...em Brasília".

O amor é revisitado em tom mod na busca por respeito a dois em "Respeitar" e na falta de valores no ambiente mundano cyber em "Sexo virtual", com seu lindo som de piano a cargo do misterioso Rotieh Ortseam. Nessa música, o sorriso brota facilmente ao se ouvir que "carentes profissionais, teclando orgasmos digitais..." e que "sexo virtual é tão legal, pois mesmo feio e fedido, na internet sou o mais querido, isso é tão legal" Já "Febem" reproduz as desilusões de um fugitivo sob os auspícios da adrenalina do vocal sincopado punk´n´roll de Carlos Lopes, do groovie do baixo grandfunkiano de Wlad Vieira e da bateria arrasa quarteirão de Américo Mortágua.

Musa existencial – Carlos Lopes, resolveu fazer uma bela homenagem a Janis Joplin, que teve passagem meteórica pelo Brasil em plena ditadura militar, mas "...não bateu continência para general". Cantando naquele velho jeito tosco e emocional, ele desvenda que a branca rainha texana do blues foi esculachada e desvalorizada, deu seu ar da graça para poucos e retornou para a terra natal para, meses depois, ter uma misteriosa morte. Overdose, suicídio ou assassinato? Se o vocalista da Mustang não consegue decifrar esse mistério, ele nos lembra que Janis "veio brincar de carnaval", mas "no Rio foi feliz e não sabia". Esse rock dilacerado tem feeling ultra hard blues acelerado e cadenciado, nos acalmando ao fim porque "Janis Joplin riu da morte, ela está com Hendrix em melhor lugar".

Oriunda do repertório da outra banda de Carlos Lopes, a funkeira experimental Usina Le Blond, "Cinco contra um" migrou sem atritos estéticos para o repertório da Mustang. A letra desse pesado funk rock aborda aquele velho método masculino de busca pelo prazer estimulado pela falta da companhia ideal. Retornando a máxima sartreniana de que o inferno são mesmo os outros, a energia continua a rolar em "Inferno" e sua pegada rock lascado com guitarra faiscante estilo Angus Young misturado à ambiência sonora de um Cheap Trick.

Dada – Carlos Lopes retirou o nome da sua extinta banda, Dorsal Atlântica, seguindo o ensinamento dadaísta de transformar, pela intencionalidade vanguardista, qualquer coisa em arte. Sendo assim, abriu uma enciclopédia e enfiou o dedo em uma página qualquer e pronto. Estava escolhido o nome. Ele parece ter retomado esse caminho em "Cueca e meia", pois conseguiu transformar numa bela canção de coloração hard e prog a mais que comum temática relacionada com a chateação de receber presentes desinteressantes em aniversários.

Duas baladas integram o "Tudo...". Uma é "Sonhos", de andamento aerosmithiniano setentista e defesa lírica do mote filosófico da Mustang em não abrir mão dos sonhos, custe o que custar. Já "Despertar" emociona com seu teclado e vocais de apoio em estilo progressivo e pique hard, invocando estória de um espírito desencarnado descrente da sua passagem que tenta, sem sucesso, falar com as pessoas a sua volta sobre o tempo perdido no plano terreno.

Se alguém duvida das possibilidades de modernização do hard rock na língua de Camões, a mesma se encerra em "Rock and roll city". A singela homenagem à cidade da paulicéia desvairada e sua sanha ilógica nos lembra que "não há espaço, o ontem foi incendiado, o futuro chegou, adiantado...onde vai chegar, essa sua busca? O céu é o limite...". No solo de guitarra vem à tona todo senso melódico de Carlos Lopes sob o brilho da elegante influência do alemão Michael Schenker (Scorpions, UFO e MSG).

Último romântico – Por mais que pareça uma idéia fadada eternamente ao fracasso, todo ser humano já pensou em encontrar sua cara metade para viver o resto da vida junto ao seu lado. O personagem de "Véu e grinalda" potencializa o ideal byroniano já de enxoval comprado. Ele só não sabe em quantas prestações, "mas não faz mal, pois o que importa é enxoval". Nesse divertido devaneio rock´n´roll reside um problema para o anti-Casanova, que não quer namorar e sim casar, pois ele diz que "o único detalhe é que não te conheço, nunca falei com você...". Humor refinado não previsível recomendável para todas idades, crenças e classes sociais.

A Mustang repete no "Tudo..." a manha de fazer duas versões de uma mesma música. No caso de "Outro lugar", sua primeira versão é rock´n´roll com batida acelerada e guitarra da velha escola hard com acompanhamento de bateria em frenesi meio galopado. A segunda versão, que fecha o cd, tem letra ligeiramente diferente e deixa o country rock invadir a seara musical da banda nos remetendo a um clima de rodeio da pesada.

O rock é, na atualidade, uma linguagem universal que tanto pode ser executada nos Estados Unidos, Brasil, Japão, África, Europa ou Oceania, bastando para isso que se domine seus códigos, levando a uma espécie de determinismo histórico para quem quer fazer música direta e visceral. Isso causa a sensação de uma incômoda imposição da indústria cultural. No entanto, há um outro lado da moeda nessa realidade, pois existem artistas que vivenciam o rock na alma sem fundamentalismo, não como uma camisa-de- força estilística, mas sim como uma bússula criativa existencial rumo ao desconhecido e sublime.

Os pneus da Mustang rodam nessa estrada sem fim, de olho no que está por vir mas, pelo retrovisor, sacando o caminho percorrido. Ou seja: vivenciando o presente, de olho sempre pra frente e com respeito pelo passado. Sem vergonha de ser rock´n´roll.

O convite para a carona está feito. É pegar ou largar.

I Wanna Feel Alright!


Borel, Apu, Maurão, Mário Jorge e Vandinho

Ou o que você faz quando seus melhores amigos são também a melhor banda de rock da cidade?

Especial Clash City Rockers . Rock Soteropolitano Anos 90

por Franchico

A história da Úteros em Fúria em si não tem grandes mistérios. Como ainda tô com preguiça de escrever aquela biografia romanceada, organizei os fatos ano a ano (ainda que não me considere à altura de escrever o romance que essa história merece, mas tudo bem). Bom, chega de enrolação. A seguir, uma breve revisão na história da Úteros em Fúria.

1986: Evandro Vandinho Botti (guitarra) forma a Úteros em Fúria com alguns colegas do tradicional Colégio Antônio Vieira para participar das famosas Mostras de Som da escola, pequenos festivais de música para os alunos. Mauro Pithon (vocal), Maurício Braga (bateria), Rozendo Loyola (baixo) e mais um português que não lembro o nome e tocava teclado completavam a banda. O som oscilava entre o progressivo que Vandinho então idolatrava e o rock Brasil, então no auge. No repertório, músicas da Legião Urbana (Soldados), RPM (Revoluções por minuto) e algumas próprias, com letra em português.

1988: Após diversas formações flutuantes e com uma média de dois shows por ano (sempre no palco da escola), Vandinho chama o amigo de veraneio em Villas do Atlântico, Emerson Borel, para tocar guitarra. Evandro passa para o baixo. Emerson traz novas composições e suas influências de metal, Led Zeppelin e Rolling Stones para o grupo. As letras passam a ser escritas em inglês.

1989: As influências de Rolling Stones, Led Zeppelin, Aerosmith e cia se intensificam com a entrada de Luís Fernando Apú Tude (primo de Rozendo Loyola, também da galera de Villas) na segunda guitarra, violão de 12 cordas (bastante utilizado na época pela banda) e gaita. Mauro dá um tempo para estudar para o vestibular e passa esse ano fora da banda. Um cara chamado Bacelar, com uma performance de palco similar à de Cazuza (!!) e gogó pouco privilegiado, tapa o buraco.

1990: Não lembro direito, acho que não aconteceu nada de significativo nesse ano, além de Borel e Vandinho afinando a parceria nas composições. Bacelar vai estudar medicina e Mauro retorna ao seu posto.

1991: Todo mundo fora da escola, é hora de partir pro circuito de bares da cidade. Repertório para isso já havia. Mas não havia mais baterista, contudo: Maurício Braga resolvera sair, não lembro o motivo por que. Após alguns meses em busca de um batera novo, amigos em comum apresentam Mário Jorge à banda. Pronto, está completa a formação clássica da Úteros em Fúria: Mauro Pithon (vocal), Evandro Botti (baixo), Emerson Borel (guitarra solo), Luís Fernando Apú Tude (guitarra base e gaita) e Mário Jorge (bateria). Após uma apresentação de despedida da escola no palco do Vieira, em julho, rola o primeiro show da banda na night da cidade, na lendária casa Mata Hari, no Rio Vermelho. Ali, a mágica acontece. A despeito de todas as limitações técnicas dos músicos, da falta de experiência e sabe-se lá o quê mais, aqueles shows inauguraram os anos 90 no rock baiano. A mistura de Red Hot Chilli Peppers (então no auge criativo, com o Bloodsugarsexmagic estourado) com Aerosmith, aliada ao carisma natural da banda no palco e à vibe paquidérmica de diversão emanada nas apresentações conquistam todos os que cruzam o caminho da banda. No fim do ano, a cantora Sarajane, remanescente dos primórdios da axé music, comparece à um dos shows no Mata Hari. Ela e Apú começam a namorar. A influência de Sarajane teria papel fundamental na profissionalização da banda.

1992: A cada apresentação, aumentava o burburinho na cidade sobre a Úteros em Fúria. Músicas como Queenie, You just follow all the rules, I'm bad, Be bigger, I wanna feel alright e One more time sacudiam o público como um liquidificador, ninguém ficava impune. Era um show sem tempos mortos, e até mesmo nas duas baladinhas, Sister moonlight e Inside the beer bottle, a galera pulava, agitava e se esgoelava. Em abril, lotam o Zouk Santana, então o melhor palco da cidade para músicos em ascensão ou do circuito alternativo. A ocasião é memorável. A cena da cidade, então esfacelada e estagnada, ganha uma banda agregadora, que atraía punks, metaleiros, surfistas, playboys, remanescentes da cena dos anos 80, universitários, rockers tradicionais, gente normal e outros bichos esquisitos, tornando cada show uma celebração descontrolada, à base de muito grito e participação por parte da platéia. (Que o diga Cláudio Esc, que adorava subir no palco para colocar Emerson ou Mauro nos ombros, como Brian Johnson fazia com Angus Young no AC/DC). Outro fato extremamente relevante que não deve ser esquecido é que foi nas apresentações da Úteros que a mulherada começou a comparecer nos shows de rock das bandas locais. Até o advento dos irmãos uterinos, show de rock local era uma tristeza. As únicas mulheres presentes eram as namoradas dos músicos (geralmente de cara amarrada) e eventuais garçonetes. Não sei exatamente as razões dessa atração do público feminino pela Úteros, mas suspeito de algumas razões, desde o próprio nome da banda, até o inequívoco sex appeal dos rapazes (eu estou sendo irônico!), entre outros motivos. Entre as mocinhas adolescentes que acorriam em polvorosa aos shows da Úteros, estava a jovem Pitty, que volta e meia cita o fato em entrevistas. Em julho, Apú casa-se com Sarajane. Rolam viagens para shows no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, onde tocam com Chico Science & Nação Zumbi. Participam da coletânea Bazar Musical SSa 1 (lançada apenas em vinil, hoje uma raridade valiosa), junto com outras bandas significativas da época, como Mutter Marie (de Ronei Jorge e Alexandre Xanxa Guena), Meio Homem (de Ruy Mascarenhas) e Kama Sutra (de Lili, do Dever de Classe), cada banda com duas faixas. As faixas da Úteros nessa coletânea são You just follow all the rules e Dear misery. Poucos meses após o disco ser lançado, Júnior, dono da loja e selo Bazar Musical e grande incentivador da cena, morre de forma trágica em um acidente de moto. Em setembro, fazem outro show antológico no primeiro evento Baú do Raul, na Concha Acústica, roubando a cena de Marcelo Nova e sua Envergadura Moral. Em1992 (e até o seu fim em 1995), nenhuma banda de rock de Salvador era tão conhecida e atraía tanta gente às suas apresentações quanto a Úteros em Fúria.

1993: Sarajane viabiliza com Wesley Rangel (Estúdio W.R., o eterno Templo do Axé) a gravação do primeiro (e também único) disco da banda. As gravações ocorrem no Carnaval daquele ano. Nestor Madrid, encarregado por Rangel pela produção, devia ter mais o que fazer naquele Carnaval, pois pouco compareceu ao estúdio, deixando o pepino nas inexperientes mãos dos músicos e do engenheiro de som Marcelão, que obviamente, tinha pouca ou nenhuma experiência em gravar rock 'n roll. O resultado foi o som pouco potente e que não captava nem de longe o peso e vibração da banda ao vivo. O som de bateria foi o mais afetado. Contudo, as músicas que levantavam o povo nos shows teriam ali seu registro definitivo. Em maio, Emerson Borel começa a dar sinais de que algo não ia bem com sua cabeça. Paranóia, medo e angústia crescentes, aliadas à um certo abuso de substâncias consideradas ilegais pela constituição, desembocaram rapidamente em um quadro de esquizofrenia aguda que estourou logo depois. Perplexos e pegos de calças curtas em um momento crítico - com disco gravado e em negociações com os selos do sul para o futuro lançamento -, a banda dá o apoio que é possível para Emerson e seus pais. Após muitos remédios e sessões de terapia, Emerson retorna às suas funções, porém, algo já havia se perdido, o trauma fora grande e nem o guitarrista (e alma da banda), nem os outros membros eram mais os mesmos. Recém recuperado, Emerson embarca à base de calmantes para o Rio de Janeiro com a banda para os shows de lançamento do disco, que acabou lançado (em vinil e CD, esgotados) pelo selo independente carioca Natasha Records, de Felipe Lerenna. No Circo Voador, a Úteros em Fúria divide o palco, com direito à jam e tudo, com Chico Science & Nação Zumbi, àquela altura, já amigos da banda. Em Salvador, o disco é lançado em um show bombástico e caótico na casa de shows Sabor da Terra, então de Chocolate da Bahia. Cerca de duas mil pessoas se acotovelam na casa, deixando mais um bom punhado de gente do lado de fora. Detalhe: não há seguranças para o show. À certa altura, era impossível ver os membros da banda, pois a quantidade de fãs enlouquecidos pulando sobre o palco é enorme. Amigos da banda e roadies tentam convencer as pessoas a sair do palco, mas é como tentar conter um furacão. Punks em estado de histeria se jogavam no chão do palco e se debatiam de forma epiléptica. Por um milagre, nenhuma briga de verdade foi registrada, ninguém saiu machucado, nenhum incidente ocorreu. Por falar em roadies, não dá para não citar aqui os competentes César Acredite (esse era uma figuraça) e Benito, que, donos de uma lealdade canina, trabalharam com a Úteros enquanto ela existiu, fizesse chuva ou sol.

1994: As crises de Emerson vêm e vão, o clima é de insegurança, e a banda se ressente do estado de nervos precário de seu guitarrista e principal compositor. Vandinho, fundador e equilíbrio emocional do grupo, foi quem mais se assustou com a situação. Em meados daquele ano, abalado com tudo o que havia acontecido, despede-se da banda em um show no Teatro Miguel Santana, no Pelourinho, onde também tocaram Mundo Livre S.A. (ainda com Otto) e Jorge Cabeleira & o Dia em que seremos todos inúteis. Para o lugar de Vandinho, é convocado o baixista Ivanzinho Maçarico, irmão de Paulinho Oliveira (que na época, arrepiava com sua banda Stone Bull, com a qual a Úteros tinha uma espécie de rivalidade amigável). Emerson ainda compõe mais umas duas ou três músicas novas (Hide my hate, a melhor delas, é bem significativa de seu estado e da própria banda em si). Os únicos registros dessas músicas inéditas estão nos shows da época gravados em VHS (e há muitos), material valiosíssimo e hoje mofando no armário de Mário Jorge, necessitando de digitalização urgente. O ano passa de forma vacilante entre shows e recaídas de Emerson, o que deixa todo mundo (família, banda, amigos) tenso com a vida naquela eterna corda bamba. Ivanzinho estréia na banda abrindo o show de lançamento do primeiro disco dos Raimundos na Concha Acústica. No final do ano, a situação de Emerson está insustentável. De comum acordo, os outros membros resolvem chamar um outro guitarrista para segurar a onda enquanto Emerson está fora de ação. Para o posto, é chamado Fernando Mercenário Sarmento, amigo de Mauro, que antes da Úteros, tocava numa banda chamada Dikara.

1995: Mercenário estréia no Carnaval daquele ano, tocando no Palco do Rock, na praia de Piatã. A despeito de seus esforços valorosos, seu estilo era muito diverso do de Emerson e seu carisma, claramente inferior. Em março (ou abril), a banda faz seu segundo e último show com Mercenário, novamente abrindo para os Raimundos na Concha. Em entrevista para o documentário Úteros em Fúria, uma videobiografia (projeto de fim de curso deste jornalista que vos escreve), concedida já no ano de 2000, Mauro relembra e admite que a banda acabou ali, por força dele. "As coisas já não eram as mesmas, as outras pessoas que entraram na banda não se encaixavam, então hoje eu até faço um mea culpa: a banda acabou ali por culpa minha, porque eu quis assim". Ninguém levantou objeções também na época. Terminava ali, de forma definitiva, a Saga Uterina Furiosa. Digo, quase: dois anos depois, em maio de 1997, houve um show de revival com a formação clássica - maravilhoso como sempre, diga-se - na casa Almanaque, na Barra. Mas foi só um show. Um coda, digamos assim, para fechar com chave de ouro, da maneira que tinha de ser.

Life after Úteros

Evandro Vandinho Botti: Quando saiu da Úteros, passou a estudar gravação no Estúdio Zero, como estagiário, além de cursar Composição e Regência na Escola de Música da UFBA (até hoje não concluído). Em 1997, abriu o próprio estabelecimento, o Estúdio em Transe. No mesmo ano, começou o projeto Guizzzmo com o ex-companheiro uterino e amigo Apú. Lançaram um disco em 2003. Apú saiu da banda no ano seguinte e a Guizzzmo acabou. Hoje, Vandinho segue carreira solo como Vandex.

Emerson Borel: Deu uma de Getúlio Vargas, saindo da vida para entrar na história do rock local. Figura trágica e genial, anjo torto de Fender vermelha em punho, atormentado pela própria mente, ainda montou a banda Black Trunk (com o discípulo Cândido, ex-Cascadura, hoje na Theatro de Séraphin), de curta trajetória. Fez parte da Guizzzmo como membro fixo e compositor, mas depois saiu. Colaborou com várias outras bandas, inclusive com a Sangria em seu iníciozinho. Vitimado por uma depressão profunda, nos deixou em junho de 2004, saindo de cena de forma abrupta e cruel, consigo mesmo e com todos aqueles que o amavam. Hoje, além de lembrança vívida na memória de todos aqueles com quem conviveu, tornou-se uma lenda do rock local.

Luís Fernadno Apú Tude: Com o fim da Úteros, chegou a tocar por pouco tempo na (hoje rediviva) Lisergia. Trabalhou alguns anos com a banda Penélope no Rio de Janeiro, operando a mesa de som nos shows, entre outras atividades. Entrou na Dinky Dau em 1997. Levou a Guizzzmo e a Dinky Dau (de Pedro Bó, Daniel Wildberger, Nélio Black e Ricardo Cury) paralelamente por uns dois ou três anos, até o fim da segunda. Dedicou-se apenas a Guizzzmo e a estudar técnicas de gravação em cursos e estagiar no Estúdio W.R., onde trabalhou alguns anos. Em 2004, iniciou a Sangria com os companheiros uterinos Mauro e Emerson. Com a depressão crescente, Emerson saiu, dando lugar para Pedro Bó (da extinta Dinky Dau).

Mauro Pithon: Após o fim da Úteros, trabalhou em diversos empregos, inclusive como roadie dos (seus chapas do Bonfim) Dead Billies e também no Estúdio Zero, gravando jingles e spots para rádio. Em fins de 2003, a necessidade de se expressar o fez montar a Sangria, banda de rock pesado e agressivo, com letras em português. A Sangria foi e continua sendo seu único projeto musical pós-Úteros.

Mário Jorge: com o fim da Úteros, logo entrou na banda Penélope, com a qual gravou três CDs (dois pela Sony e o último pela Abril Music), com algum sucesso em rádios e na MTV. Mudou-se para o Rio de Janeiro, excursionou pelo Brasil todo com a banda e ganhou muita experiência de vida, convivendo com grandes músicos e produtores, como o precocemente falecido Tom Capone (produtor dos dois primeiros discos da Penélope e marido da tecladista Constança Scofield). Saiu da Penélope em 2003 (a banda acabaria em 2004) e voltou à morar em Salvador, retomando e concluindo o curso de veterinária na UFBA, profissão que abraçou. Em janeiro de 2004, começou a apresentar o Rock Loco, um programa de rock na rádio comunitária Primavera FM. O programa, que agregou um contingente de amigos e colaboradores, durou até junho de 2005. Hoje, desenvolve um projeto solo secreto, supostamente denominado Os Opalas. Não se sabe se ele pretende montar banda, lançar o trabalho em disco ou simplesmente engaveta-lo. O tempo dirá.

Ivanzinho Maçarico: paradeiro desconhecido por este jornalista.

Fernando Mercenário Sarmento: Ao que consta, mudou-se para Nova Iorque, onde se casou e ganha a vida como professor de jiu-jitsu (!!!). Só vem à Salvador de visita.

Sim, mas afinal, o que você faz quando se tem 19 anos de idade (em 1991) e seus melhores amigos formam a melhor banda de rock da cidade? Três coisas: primeiro, você deverá colar neles mais ainda e se divertir que nem maluco, colaborando no que for possível também, claro (o primeiro release deles - péssimo! - foi meu). Segundo, fará um documentário em vídeo sobre a trajetória da banda para concluir o curso de jornalismo (de qualidade discutível e amador, mas mesmo assim, você terá orgulho dele). E em terceiro, escreverá um texto enorme para o Clash City Rockers. (Em quarto, você escreverá um livro, claro, mas isso, quem sabe, mais pra frente...).

A verdade é que, apesar de tudo - apesar principalmente da abrupta e trágica perda de um irmão -, eu não passo de um filho da puta sortudo.

Eu nunca vou poder agradecer a esses caras por terem me proporcionado os melhores, mais intensos e loucos anos da minha vida.