Mutantes, live at The Barbican Theatre

Lalo de Almeida / NYT


Depois de um ano de (re)união e uma tournée elogiada pelos Estados Unidos, que incluiu em alguns shows o Flaming Lips e a Thievery Corporation, Os Mutantes começam a fazer os 'nove fora' e colher alguns produtos. O primeiro deles é o CD duplo "Live at Barbican Theatre, London, 2006" (Luaka Bop), que registrou o (re)começo dessa estória. Na swingging London, of course.

Trinta anos haviam se passado. Nesse tempo Os Mutantes se tornaram uma lenda internacional, referência para os amantes da psicodelia pop e entraram no panteão das bandas cult, sendo descobertos pelas novas gerações e incensados por gente como Kurt Cobain, Beck, Devendra Banhart and David Byrne. Era a hora de voltar? Voltar pra quê? Pra quê voltar?

O repertório 100% revival não ajuda muito na resposta. Se não havia nada de novo para mostrar, voltar pra quê? Imagens exclusivas dessa estréia no programa Fantástico, da Globo, colocaram mais desconfianças na empreitada. E, Mutantes sem Rita Lee?! No seu lugar uma surpreendente Zélia Duncan.

Passados os choques iniciais descobre-se que Duncan está à vontade e faz sua parte com competência sem, em nenhum momento, tentar parecer ou imitar a tia Lee. Verdade seja dita; quem mesmo percebeu a ausência de Rita? A aura dos irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Baptista fazem os Mutantes e, aos fãs, basta vê-los e ouvi-los. E eles fazem a sua parte. Pouco importa que o Arnaldo esteja dodói e que cante com a voz de um Smurf. O Sérgio Dias segue sendo um grande guitarrista e ainda usa os pedais handmade de 40 anos atrás. Zélia se porta com distância respeitosa; é mais uma na banda. Da formação clássica também está no palco o baterista Dinho Leme. Os competentes músicos de apoio fazem o resto.

Passado um ano do projeto e com o fim da tournée, Zelia Duncan volta para sua carreira solo e Arnaldo também anuncia sua saida, alegando que tem outros projetos. Fala-se na volta de Liminha e num disco de inéditas. Quem sabe. Esse Live at Barbican Theatre, que ficou devendo nos quesitos técnicos do seu registro, serve ao menos para colocar de volta foco na discografia dos Mutantes, agora facilmente encontrada nas grandes cidades do mundo. E claro, vira ítem de colecionador, por conta da não presença de Rita Lee e das 'english versions' de velhos sucessos na voz de Duncan, como Virginia.