Clash City Rockers 4 anos | Especial

Nick Drake. Made to love magic 



por Márcio Martinez

Mortes atemporais têm frequentemente roubado do mundo pop alguns de seus melhores artistas e a morte de Nick Drake, em 25 de novembro de 1974, aos 26 anos, por overdose de antidepressivos, não foi nenhuma exceção. No ano anterior, outro promissor talento da Folk music, Jim Croce, se foi num desastre de avião e anos antes disto o Rock & Roll perdia, da mesma forma, Buddy Holly e Ritchie Valens. Estes, como outros casos, são exemplos da privação do mundo artístico de jovens cantores/compositores que apenas começavam a atingir seu potencial e reconhecimento no meio em que se lançavam. Como costuma acontecer, infelizmente, neste tipo de situação, viriam a obter mais sucesso após a morte do que em vida.

O ponto é este: de que forma? Não apenas pelos seus trabalhos gravados, que ficaram para a posteridade, quando sempre poderemos ouvi-los e nos deliciarmos. Além disso, e justamente também por causa disso, trata-se da influência fortemente exercida em outras gerações, até hoje.

Nick Drake lançou em vida três discos, paradoxalmente semelhantes e distintos entre si. Foi o suficiente para grupos e artistas solo como The Smiths, Belle & Sebastian, Ron Sexsmith e até Radiohead, só para citar alguns, declarassem através de suas composições de onde vem sua base melódica, melancólica.

Um quarto LP, póstumo, foi lançado em 1985, contendo sobras de gravações. Antes mesmo da gravação do primeiro álbum, já tinha composições suficientes para preencher um inteiro e as apresentava ao vivo em clubes e pequenas casas de shows em Cambridge, muitas vezes tendo que se fazer ouvir por sobre barulhentas platéias de bêbados, ao som de cascos de champagne se estilhaçando pelo chão. Mesmo que o microfone pifasse, ele não se importava e levava a canção até o fim, mesmo que ninguém mais estivesse ouvindo.

Para sorte nossa, numa dessas apresentações, um membro do Fairport Convention, banda britânica de Folk/Rock já então bem estabelecida no circuito europeu, notou esse gênio e o apresentou a seu produtor, Joe Boyd, descobridor de novos jovens talentos de cantores/compositores. Daí a Five Leaves Left, seu primeiro e criticamente bem aceito LP, foi um pulo, chegando a ser comparado a 'Astral Weeks' de Van Morrison por sua 'coerência idiosincrásica e intensidade confessional'. Essa pequena obra-prima foi a base de uma turnê regional que se seguiu com outros artistas, o que para ele era torturante.

De suaves, porém intricadas melodias, sua música era apresentada basicamente ao violão e o público normalmente bebia e fazia muito barulho, o que o levou a desistir de apresentações ao vivo. 'Time Has Told Me', canção que abre este primeiro trabalho, já dava uma idéia do tormento depressivo em que ele se afundava, achando cedo demais que o mundo o estava deixando para trás: 'Time has told me/ you´re a rare find/ a troubled cure/for a troubled mind'.

Numa espécie de retiro, escreveu o que viria a ser seu segundo álbum, Bryter Layter que, mesmo mantendo sua 'natural' atmosfera melancólica, já não é tão desolador quanto o anterior e possui um maior incremento instrumental nas faixas, com guitarra, baixo e bateria, conferindo por vezes até um certo acento jazzístico. 'Poor Boy', deste LP, é quase uma auto-paródia, com backing vocals femininos respondendo: 'Oh poor boy/so sorry for himself/oh poor boy/so worried for his health'. Este teve menor reconhecimento público e juntando a isso sua depressão que se agravava, seu isolamento tornou-se maior.

Já com outro produtor, e tomando medicamentos antidepressivos ora sim ora não, pediu para gravar um terceiro álbum. Intitulado Pink Moon, este derradeiro trabalho é mais minimalista que o primeiro e, fora um pequeno uso de piano em uma canção, o resto todo (o disco é curtinho) é só voz e violão. Declarou então que não tinha mais nenhuma composição para acrescentar e isto foi o fim. 11 atormentadas faixas do mais puro brilhantismo melódico, há quem considere Pink Moon sua obra-prima. Fica até uma percepção de dor em sua voz, esforçando-se para cantar músicas que, de certo modo, pareciam pedir desesperadamente pela salvação de sua alma. Três maravilhosos álbuns, essenciais em qualquer discografia, não só de amantes de Folk music, mas por quem aprecia boa música de modo geral. Difícil dizer qual o melhor.