
Vem à luz, enfim, o primeiro rebento da banda soteropolitana Berlinda. Mar de Calma, um EP virtual com 4 faixas, já está disponível para download (gratuito) desde o último dia 25 deste mês.
Para que ainda não conhece, a Berlinda é composta por algumas figurinhas carimbadas da cena local como Sérgio Martinez, o Cebola, que também é colaborador do Clash City Rockers, além do mitológico Adriano Gomes, o Batata, ex-guitarrista das bandas Macumba's Day e Arsene Lupin. Os outros dois nomes, André Blhoem (voz) e Juliano Pontes (bateria) são boas surpresas, crias da nova geração.
Apresentações feitas, vamos ao som. A Berlinda transita naquela faixa de exceção do rock feito na Bahia, onde a banda Brincando de Deus fez história na década de 90 e hoje, talvez, só exista alguma similaridade com o som da banda Theatro de Séraphin. Ou seja, rock baseado em guitarras dissonantes, letras introspectivas e canções pop corrosivas. No caso da Berlinda, o vocal cristalino e delicado de André consegue dar suficiente personalidade a banda. Mas os caras fazem parte, sim, daquele clube ao qual pertencem o Teenage Fanclube, o Galaxie 500, o Jesus and Mary Chain e que o Velvet Underground tem presidência vitalicia.
Mar de Calma, a web based album - seguindo a tendência de bandas independentes pelo mundo a fora - surpreende de cara pela qualidade técnica do registro. As mãos competentes da produção, à cargo de Apu (ex-Sangria e Úteros em Fúria) e Thomas Magno (Toca do Bandido, Maria Rita) fizeram diferença e extrairam uma Berlinda que ainda não ouvimos nos palcos. Guitarras cheias e cortantes; baixo e bateria econômicos fazendo apenas a moldura, e a voz de André, segura, arriscando inclusive leves falsetes. Pequenos detalhes e arranjos exclusivos de estúdio deram à banda uma cara de gente grande. Uma faca de dois gumes. Aumenta a responsabilidade da banda e cria a expectativa pra ouvir aquela sonoridade ao vivo. Doce problema, no entanto.
As quatro faixas - Amanhã, O Lado Escuro da Rua, Quando Ficamos Sós e Redenção - são coesas entre si e reforçam uma unidade no som. De fato a banda parece que já encontrou um caminho e uma certa identidade. A entrada do baterista Juliano foi fundamental nesse processo. Para quem conhece a banda há mais de um ano sabe do que falo. São faixas melancólicas, mas não tristes. As questões do coração permeiam todas elas e poderia mesmo ser a trilha sonora de um par romântico angustiado. Um Mar de Calma? Por desilusão, talvez. Resta dizer que é um trabalho de estréia mais do que bem vindo, bem feito e sem medo de se levar à sério. Sobretudo numa cidade em que ser engraçadinho é a tônica. Até no rock.
. Berlinda – O Lado Escuro da Rua
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