The Byrds. Oito milhas além.

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por Sérgio 'Cebola' Martinez

Bob Dylan, o bardo folk (até então) americano outsider por excelência, e seus violões característicos; The Beatles, a invasão inglesa em seu primeiro momento, rock puro, frescor adolescente, histeria coletiva e guitarras rickenbaker arrepiando os puritanos da "verdadeira" música anti-establishment. Roger McGuinn, um cara que participava ativamente deste circuito folk, mas que também gostava das canções dos Beatles. E foi em 1965 que aconteceu. Com uma Rickenbacker 12 cordas no pescoço, uma canção de Dylan, Mr. Tambourine Man, e as harmonias do quarteto inglês na cabeça, é descoberta uma fonte que mais tarde se revelaria inesgotável.

O Folk-Rock do The Byrds, de Mr.McGuinn (guitarra, vocais), mais David Crosby (guitarras e vocais), Gene Clark (vocal), ChrisHillman ( baixo ) e Michael Clarke ( bateria ), influenciou tanta gente, inclusive Dylan e Beatles, dos anos 60 até hoje, que dá pra afirmar ser esta, na minha humilde opinião, a banda americana mais importante de todos os tempos. Seus dois primeiros discos, respectivamente, Mr. Tambourine Man e Turn Turn Turn, são pedras fundamentais do folk-rock, com sua tapeçaria de violões e guitarras envolvendo os vocais harmoniosamente brilhantes de Crosby, McGuinn e Clark.

Formada em 1964, os Byrds entraram para a história como os criadores do folk rock, mas sua música se estendeu para muito além de um rótulo limitante. Se nos dois primeiros LPs ( Lp, lembram disso? ), a direção era ainda esta, no terceiro parecia que tinha "algo mais" trabalhando na cuca dos passarinhos. No terceiro disco, Fifth Dimension, canção Eigh Miles High, com seu clima etéreo, virou motivo de polêmica por, supostamente fazer alusões a substâncias ilícitas, fato negado por seus membros. Mas o que realmente importa é que já é marcante a incorporação de elementos estranhos à sua música. O solo de McGuinn
nesta canção, por exemplo, foi uma tentativa de transpor para a guitarra as viagens sem amarras do sax do jazzista John Coltrane, um ídolo confesso. É um grande disco, lançado em 1966, forjando as bases da psicodelia no mesmo ano em que os Beatles lançavam o seu fabuloso Revolver, um outro pilar.

Younger Than Yesterday foi o aperfeiçoamento e consolidação dessa nova direção experimental. Sem abandonar completamente suas raízes musicais, O Byrds se renova e se reinventa neste que é considerado seu maior trabalho desde o Mr Tambourine Man. Incursões por efeitos eletrônicos, utilização de recursos de estúdio ao máximo, ruidos, além de, é claro, suas indefectíveis harmonias e melodias já clássicas, este disco de 67 marca o auge do Byrds psicodélico. É dele a antológia So You Want to Be a Rock n' Roll Star, um sarcástico panorama sobre a busca da fama.

O auge mas não o fim. Em 68 é lançado outra obra prima, pelo menos para este que vos escreve. The Notorious Byrd Brothers é um grande disco, sem dever nada ao seu antecessor. O Folk-jazz-country-rock & psicodelia continua presente, em um disco que marca a saída de David Crosby, apesar de ser dele quase metade das canções. Na capa, no lugar de David, um cavalo, simpático, não? Logo após o lançamento, Michael Clarke também deixa a banda. Essas duas saídas causariam o segundo redirecionamento estético/musical da banda, com a chegada de Kevin Kelley e...Gram Parsons.

Influenciados pela personalidade marcante de Parsons, Sweetheart of the Rodeo é um fantástico album de...country rock. Isso mesmo, o country sempre esteve presente em um ou outro momento nos discos anteriores, mas desta vez torna-se a opção predominante. Lançado ainda em 68, divide opiniões entre os que acham que o Byrds deveriam continuar suas experiências vanguardistas e os que aprovaram com louvor a nova opção. Mas, acredite, é um disquinho muuito bom, sem concessões, e pode ser, talvez, enquadrado na categoria daquelas bandas que voltaram ao básico em 68, como Stones e Beatles, citadas por Osvaldo no post do The Band no blog irmão Rock Loco.

Em 69, já sem Parsons, eles lançam Dr. Byrds & Mr. Hyde, com uma definitiva versão de This Wheels on Fire, de Dylan e Ballad of Easy Ryder, sendo este último bem superior ao primeiro. Ouça a faixa título e entenda o motivo da banda ainda ser necessária ao mundo. O Ballad...e o Untitled, de 1970 são, aliás, os últimos grandes discos dos Byrds. Todos eles contavam com um novo guitarrista, o fantástico, vindo das hostes country, Clarence White. Os álbuns seguintes são irregulares e não acrescentaram muito ao legado da banda. Em 73, nove anos após decolar, The Byrds deixa para seus seguidores o trabalho de levar em frente a sua música.

Se for pra baixar tudo, ótimo, vale a pena. Se quiser uma seleção, pega o Mr. Tambourine Man, o Younger Than Yesterday, O Sweetheart of the Rodeo e o Untitled que tá de bom tamanho, e abrange as diversas fases.

A última valsa de uma banda de carne e osso

foto Elliott Landy

Woodstock, 1969.

por Miguel Cordeiro


O grupo canadense The Band tem uma longa trajetória. Na estrada, literalmente, desde o final dos anos 1950 se apresentando em qualquer espelunca imaginável, de bares a puteiros, pernoitando em postos de gasolina, dormindo em caminhonetes, economizando nicas para alcançar a próxima parada e como banda de apoio do cantor Ronnie Hawkins estavam sempre prontos para detonar seu repertório de rock'n'roll, country, blues e rockabilly. Nesta época eles ainda eram conhecidos como The Hawks.


Tudo mudou quando Bob Dylan decidiu eletrificar o seu som e, então, os procurou para acompanhá-lo. Excursionaram juntos em 1965/66 provocando uma revolução ao aliar a poesia caudalosa de Dylan ao selvagem rock'n'roll. Assim, chocaram platéias que iam ouvir o cantor folk com seu violão e terminavam impactadas pela massa sonora de alta voltagem de um então reinventado Dylan que, para desespero dos puristas, estava tocando guitarra elétrica e sendo acompanhado por uma banda de rock.


Neste momento o The Hawks se transforma no The Band. O nome surgiu naturalmente entre eles mesmos pois Dylan era um artista já reconhecido no cenário e as pessoas se perguntavam quem eram aqueles caras que o acompanhava, e, então, para chamá-los A Banda, The Band, foi um passo. Com uma inusitada formação de dois tecladistas, Garth Hudson e Richard Manuel; Rick Danko no baixo; Robbie Robertson na guitarra e o batera Levon Helm; todos eles multiinstrumentistas e com Danko, Manuel e Helm revezando no vocal principal.


Apesar de não serem muito citados nos manuais de rock mais populistas o The Band sempre foi cultuado entre os músicos e aficionados do gênero, não só por estarem ligados a Dylan mas também pela sua própria história. Desta parceria e colaboração mútua lançaram em 1968 discos fundamentais para consolidação do rock: Basement Tapes de Dylan com The Band de apoio e Music From Big Pink que foi a estréia fonográfica do The Band.. A informalidade, objetividade e profundidade filosófica das canções destes dois trabalhos provocaram um arrebatamento tão forte na cena musical da época a ponto de Eric Clapton desistir do Cream e fizeram tambem com que Beatles, Stones, Manfred Man entre outros deixassem de lado as experimentações e voltassem a uma sonoridade mais crua e direta. Exemplos? Beatles com o álbum branco - White Album e Rolling Stones com o Beggar's Banquet que tem como subtítulo Music From Big Brown.


A música feita pelo The Band é peculiar, sem efeitos mirabolantes porém de intensa poesia e densidade. A praia deles era o country rock, o folk, o rock'n'roll, o rhythm'n'blues. Eles punham em prática aquela máxima que diz que o revolucionário, o radical é fazer aquilo que é óbvio e simples.


Apesar de terem produzido vários discos de boa qualidade e criado clássicos eternos com The Night They Drove Old Dixie Down, Up On Cripple Creek, e terem emplacado na trilha sonora do filme Easy Rider a sua canção mais famosa, The Weight, o The Band era um grupo de altos e baixos. Humanos, de carne e osso, tiveram períodos de criatividade e entrosamento com outros nem tanto, mas sempre com dignidade e sem concessões fáceis de mercado.


Em 1973/74 voltaram ao topo, mais uma vez acompanhando Bob Dylan no seu disco de estúdioPlanet Waves (1973) e, juntos, numa posterior mega excursão que gerou o álbum duplo ao vivo Bob Dylan & The Band - Before The Flood. Multidões esgotavam antecipadamente os ingressos para assistí-los, e tanto a excursão como o album Before The Flood foram aclamados pela crítica e pelo público.


Corria o ano de 1976 e com nove discos lançados o The Band sentiu que havia chegado a hora de parar. No entanto eles não queriam uma despedida melancólica e sim um adeus em grande estilo. Para isto organizaram um show no teatro Winterland em São Francisco da California com participação de alguns amigos ilustres do calibre de Van Morrison, Joni Mitchell, Muddy Waters, Neil Young, o poeta beat Lawrence Ferlinghetti, Emmylou Harris, Dr. John, Eric Clapton, Dylan, Ron Wood e Ringo Starr. E para filmar este verdadeiro banquete musical nada mais nada menos que o diretor Martin Scorcese.


Deste evento surgiu o filme-documentário The Last Waltz (1978), a Última Valsa, e que no Brasil ganhou o título de O Último Concerto de Rock.


Quando se assiste The Last Waltz tem-se a confirmação do grande cineasta que é o Martin Scorcese e a música apresentada e que desfila ante o espectador é a atração principal. Um puta documentário, um filme arrepiante e não é à toa que é considerado por muitos como o melhor filme sobre rock'n'roll já feito.


Se quiser conferir como foi esta festa, compre ou alugue o DVD The Last Waltz - O Último Concerto de Rock e se deleite com um momento mágico e único onde o rock'n'roll é elevado à categoria de grande arte.


De lá prá cá, de vez em quando, o The Band se reúne, lança um disco, faz uma pequena excursão mas dois dos seus integrantes, Richard Manuel em 1986 e Rick Danko em 1999, morreram e já estão em outra galáxia.

How about Mod Culture?

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por M. Rodrigues

Europa, passada apenas uma década de pós-guerra. Em Paris os jovens do Quartier Latin fumam seus Gauloises sem filtro, enquanto lêem Sartre e pensam, às margens do Sena, na morte de Deus. Dizzie Gillespie e Miles Davis fornecem a trilha sonora. Roupas e atitudes certas compensam o vazio existencial.

Do outro lado do Canal da Mancha, mais precisamente na Inglaterra, outros jovens também procuram por uma vida mais interessante do que a dura rotina que levam. São membros da chamada classe operária ávidos por uma forma de expressão e um posicionamento frente à vida. Procurando por algo que os tirem da grande massa silenciosa.

Essa revolta contida eclode ali por volta de 1959, gerando um dos movimentos mais influentes da cultura jovem mundial até os dias de hoje. Ancorados em música e moda, os Mods têm ajudado a tornar o mundo um pouco mais respirável.

Os 'Modernists' ou simplesmente Mods, são basicamente jovens da periferia de Londres interessados em marcar distância da vida difícil e sem graça do meio em que vivem. A válvula de escape para isso se dá pela estética, uma solução relativamente ao alcance. "Uma vida limpa mesmo sob circunstâncias difíceis". Por quê se contentar com o universo dos bairros miseráveis londrinos se é possível ser um cidadão do mundo, sobretudo europeu? Querer o melhor do melhor; a melhor música, a melhor roupa, os melhores livros, o melhor meio de transporte. Produtos não necessariamente caros, no entanto 'cool'.

Assim os Mods andam de scooters italianas (baratas e acessíveis), Vespas (modelo CS150) e Lambrettas (TV), bebem café expresso, cortam os cabelos e se vestem como os franceses, bem como assistem os filmes da Nouvelle Vague. Intelectuais por excelência, e muito por pose, lêem também os escritores existencialistas e os poetas beatniks norte-americanos. Uma estética 'moderna'.

Na música o movimento começa com o jazz, do Soho, no final dos anos 50; frequenta a cena de blues londrina (Animals, Rolling Stones, Yardbirds) e se expande quando bandas inglesas começam a fazer suas recriações do soul norte-americano (dos selos Motown e Stax) e do ska e bluebeat jamaicanos. Inicialmente nomes como Geno Washington - que recebeu até uma homenagem póstuma nomeando um dos discos da banda oitentista Dexys Midnight Runners - depois bandas como Small Faces, The Who, The Creation e Spencer Davis Group, definiram melhor a estética musical (e visual) Mod, incorporando a 'pegada' rock. O culto a obscuros artistas e selos norte-americanos de soul music gerou também uma outra subcultura radical chamada de Northern Soul, que ainda hoje tem seus clubes e festas (e sites!). Assim também, como no final dos 60, muitos se voltaram para as origens trabalhistas do movimento, ouvindo ska original e deram origem aos hard mods, que depois viraram os conhecidos skinheads (não necessariamente nazis). Mas isso é um outro assunto.

Trabalhadores de dia, os Mods mantêm-se acesos à noite, pulando de festa em festa na base da famosa anfetamina 'purple hearts' (que também virou nome de banda). A 'gagueira' de Roger Daltrey em 'My Generation', um hino Mod por excelência, é uma tentativa de simular os efeitos da droga. O culto à noite e aos encontros em grupos por vezes também gerava brigas coletivas, sobretudo com os Rockers; adoradores do rock'n'roll branco, munidos de topetes, casacos de couro e Harley-Davidsons (ou as inglesas Triumph). Algumas dessas 'tretas' ficaram bem famosas e, de certa forma, contribuiram para uma estigmatização dos Mods.

Estar na vanguarda é obsessão; pular fora da adoração a uma banda ou deixar de usar uma peça de vestuário quando se torna massificada e banal. Do traje Mod clássico (início dos 60) dá para ressaltar os mocassins de couro de crocodilo em diversas cores ou sapatos de boliche ou ainda as famosas Desert Boots, de Clarks. A camiseta com a marca de Fred Perry, jeans Levi's com dobras nas barras e camisa Ben Sherman. Aqui e ali símbolos com a bandeira britânica (Union Jack). As garotas, influenciadas pela Op Art, vestiam-se com vestidos de peça inteira com estampas geométricas e cores primárias.

No final dos 60 com a ascenção da psicodelia e o advento dos hippies, a elegância Mod vai perdendo força para voltar renovada uma década depois. Os responsáveis pelo segundo levante Mod foram o The Jam, de mr. Paul Weller (the Modfather), e o lançamento do filme Quadrophenia, em 1979, com The Who. A película recria a atmosfera dos anos 60 e acaba por provocar uma onda de revival Mod em toda a Europa. Surgem novas bandas como The Chords, Secret Affair, The Circles e, a já citada, Purple Hearts.

No Brasil a banda mais conhecida, que bebe dessa fonte, é o Ira; tanto nas composições (algumas remetem ao Small Faces, prestem atenção), quanto na execução, com Edgar Scandurra dedilhando sua Rickenbacker (outro símbolo), emulando Pete Townshend e Weller.

Nos dias que correm a cultura Mod segue presente, em festivais anuais como o Euro Ye-yé, de Gijón ou o Isle Of Wight, na Inglaterra. Centenas de bandas pelo mundo fazem revivals dos 60 ou se deixam influenciar pela estética 'avançar e conhecer', que é o coração do movimento. Os discos estão por aí, há um monte de livros sobre o assunto (infelizmente importados) e o cerne da inquietação que move os Mods também continua viva em boa parte da cultura jovem mais hedonista. Para começar a entender melhor esse 'estado de espírito' vale ver o filme Blow Up, do estupendo Michelangelo Antonioni, que capta bem a movimentação da Swinging London - o filme é de 66 - além de conter cenas históricas como uma das raras aparições ao vivo dos Yardbirds e a semi-nudez da, então ninfeta, Jane Birkin.

www.modculture.co.uk

The (New) Year of the Diamond Dogs

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por Yara Vasku

Fã há muito tempo de David Bowie, mas sem a paixão que poderia me impedir de reconhecer alguns hiatos em sua carreira, decidi escrever sobre um dos mais importantes discos dele: Diamond Dogs. Tudo bem que não é lançamento, mas além de fã e de ganhar este disco de presente recentemente, trata-se da edição especial comemorativa aos 30 anos do álbum, o sétimo do trabalho de Bowie. Antes deste lançamento comemorativo, que teve prensagem nacional, já foram lançados os álbuns 'The Rise And Fall of the Ziggy Stardust and the Spiders from Mars' (1972) e 'Aladdin Sane' (1973), mas somente fora do Brasil.

'Diamond Dogs '30th Anniversary 2CD Edition' é um luxo só para os fãs de Bowie. E para os que querem conhecer o seu trabalho. Vem acompanhado de um livreto de 40 páginas com fotos dele, de capas de singles, textos sobre o histórico do disco, informações de ficha técnica e dois CDs embalados numa réplica em capa dupla do álbum original. O CD 1 reúne todas as músicas do disco original e o CD 2 vem com sons extras, como o medley com '1984 / Dodo', 'Rebel Rebel' em U.S. Single Version, versão para a faixa título e muito mais.

Considerado por muitos como o disco que encerra as experimentações andróginas de Bowie e ser seu disco mais obscuro até então, 'Diamond Dogs' (1974) lançou clássicos como 'Rebel Rebel', 'Diamond Dogs', 'Sweet Thing' e '1984' (em que Bowie já demonstra antecipar a onda 'disco' que estava por vir), além de contar com outras músicas belíssimas, como 'Big Brother'. A idéia de Bowie para este disco era fazer um tipo de versão musical para '1984', livro do escritor George Orwell onde se narra um tipo de totalitarismo de esquerda. O projeto não foi adiante porque a viúva do escritor não permitiu o uso dos direitos. Mesmo assim, Bowie registrou referências diretas ao livro, como nas faixas '1984' e em 'Big Brother' (que no livro é o governante supremo). Então, por ora é só. E boa viagem com este álbum maravilhoso!

Big Star: supermercado de canções perfeitas

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por Sérgio 'Cebola' Martinez

Poucos discos, nenhum sucesso comercial, drogas pesadas, brigas internas, canções eternas, dois gênios que se separam após o início, muita influência futura, uma curta jornada... Não, eu não estou falando do Velvet Underground, apesar de que este resumo servira como luva para a gang de Lou Reed e John Cale. Com o nome surrupiado de um supermercado da região onde ensaiavam e gravavam (Ardent studios, da Stax) o Big Star foi isso tudo e muito mais. Foram apenas três discos, sendo que o último só lançado após o fim da banda, que encheram a prateleira do mercado de canções pop com inesgotável inspiração para os anos seguintes. Alex Chilton (guitarra e vocais), Chris Bell (guitarra e vocais), Andy Hummell (baixo) e Jody Stephens (bateria), pareciam possuir apenas uma pretensão: brilhantes pop songs. E conseguiram.

O ano é 1971 e a década que se iniciava já tremia sob o peso do hard rock e do progressivo em suas diversas vertentes. Remanescentes da década de ouro ainda soavam relevantes, seguindo carreira com maestria (exemplo dos Rolling Stones , The Who, Neil Young, The Byrds etc.), cacos dos Fab Four lançavam seus solos e Chris Bell resolve convocar Alex Chilton ex-Box Tops, banda soul de relativo sucesso, e muita qualidade, da década anterior, para entrar na sua banda, que já contava com Andy e Jody.

Formada em Memphis, Tenessee, o Big Star lança seu primeiro disco, #1 Record, em 1972 e nele já apresentam suas armas devidamente polidas. Guitarras mezzo Byrds (cortesia de RogerMcGuinn) mezzo Beatles da fase Rubber Soul/Revolver, dedilhando melodias entrecruzadas e marcando ritmos sessentistas, harmonias vocais celestiais evocando Byrds e Beach Boys. Por vezes, um peso pop ao mesmo tempo vibrante, agoniado e melancólico, com ecos de Who, Stones e Kinks, o Big Star foi o filtro pelo qual o doce e o amargo do pop 60 passou para resurgir em poções coloridas de melodias pegajosas, curtas, belas em sua simplicidade, sofisticadas em suas nuances, como um final de tarde em uma praia deserta... Como um réquiem para os anos 60, festivo às vezes, nostálgico por outras. É neste primeiro disco que está presente uma das minhas baladas prediletas de todos os tempos, The Balad of El Goodo.

No segundo, de 1974, Radio City, Chris Bell não está mais presente. Brigas constantes com Chilton, relacionadas à drogas, o fizeram deixar a banda (mais tarde lançaria um solo, I'm the cosmos, em 1978, absolutamente imperdível como os do Big Star). Provavelmente por isso é um disco mais cru, mais pesado e direto. Ouçam September Gurls e podem apostar que Norman Blake (ou o Teenage Fanclub todo) fez muitas visitas ao Supermercado Big Star. Para muitos é o melhor disco da banda.

No terceiro o bicho pega. Já sem Andy Hummell, com músicos convidados, a banda se desfaz antes que fosse terminado. Mas nem pense que por isso é um disco fraco. Talvez, pelo fim iminente da banda, pelo fracasso comercial, drogas, ou o que quer que seja, Third ou Sister Lovers (ficou com os dois nomes) é uma tradução pura e sem retoques de uma alma definitivamente melancólica e destroçada. Ouça Kangaroo e perceba o quanto pode soar deprê uma canção pop. Triste, sombrio, até os momentos de agitação (Kizza me, Till the End of the Day, dos Kinks, Whole Lotta Shakin'... de Jerry Lee Lewis) parecem somente refletir uma tentativa frustrada de intervenção médica em um organismo definhando em depressão: "Your eyes are almost dead / Can't get out of bed / And you can't sleep" (trecho de Holocaust).

Canções frágeis, curtas, chapadas, letras dilacerantes, é o famoso disco corta pulso. Só Lançado em 78, três anos após o fim da banda, é uma obra-prima inconteste. Apesar das dificuldades na sua produção (ou até por elas mesmo), merece ficar na mesma prateleira de # 1 e Radio City. Sua versão de Femme Fatale, com a voz de Chilton quase se quebrando em frações de cacos é a referência exata prá sacar uma outra influência sua: Aquela banda citada lá em cima... Coincidências existem?! Bom isso já não é meu departamento.

Em estúdio foi só isso aí mesmo. Existem ainda alguns discos ao vivo póstumos que merecem seu dinheiro. O Nobody can dance, lançado em 1999, referente à um show de 1971 mais ensaios em estúdio. É um bootleg "oficializado" com a aprovação de Alex Chilton. O Big Star Live, gravado em uma transmissão de rádio em 1974 e só lançado em 1992. E Columbia: Live at Missouri University, com membros do The Posies (Jon Auer e Ken Stringfellow ) gravado em 1993 em uma retomada da banda. Alex Chilton continuou lançando discos solo durante os anos 80 e até produziu o primeiro Lp da seminal banda psychobilly The Cramps, Songs the Lord Taught Us (1980).

Alguns sabidinhos já compraram nesse mercado. The Replacements, REM, Teenage Fanclub, The Posies, Wilco, a lista é enorme e comporta bandas que hoje influencia muita gente boa. Mas a fonte tá mais pro passado, o elo perdido entre os anos 60 e os 80/90/00. É como diria aquele vendedor: aproveite, são produtos de primeiríssima qualidade.

Steely Dan ou Os mestres da sofisticação

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Fagen e Becker. Nem só de hippies vive a Beat Generation.

por M. Rodrigues

Era uma vez dois caras de New York que se conheceram ainda no colégio, por volta do fim dos anos 60, justamente ali naquela época em que o mundo estava sendo virado de cabeça para baixo, com barricadas em Paris, cacetadas no Rio de Janeiro e swinging London. Enquanto os Rolling Stones cantavam Simpathy for the Devil e os Hell's Angels matavam um garoto negro no festival de Altamont, Donald Fagen (1948) e Walter Becker (1950) solviam o melhor da beat generation (Kerouac, Ginsberg, Burroughs), bem como a trilha sonora que acompanhava essa literatura; Miles Davis, John Coltrane, Duke Ellington, Charlie Parker. Bebop e cool jazz. Isso podia dar em muita coisa, mas deu mesmo em música. Pra nossa sorte.

Fagen (piano) e Becker (guitarra), depois de alguns nomes resolveram adotar a alcunha de Steely Dan para o duo; que era nada mais nada menos que o nome dos consolos (sim, isso mesmo) de borracha que aparecem todo o tempo no romance doidão, Naked Lunch (Almoço Nu), de William Burroughs. E assim, com literatura beat, música de vanguarda e a New York de Warhol como cenário, a dupla se cerca da nata local dos jazzistas de estúdio e partem para o primeiro disco.

Can´t buy a thrill (1972), traz o hit Do it again. Música daquelas que não envelhecem e podem salvar qualquer festa que seja decente, enquanto a letra vai incentivando um cara aparentemente derrotado a tentar de novo. O espanto, no entanto, fica por conta da impressionante síntese de harmonias jazzy, levadas de rythm'n'blues e soul e belos fraseados de guitarra com um resultado pop (quando o termo ainda não era palavrão) esmerado.

Os caras continuaram assim pelos discos seguintes, burilando em estúdio composições sofisticadas e cheias de groove. Detalhistas e chatos com a produção dos discos, Fagen e Becker, fizeram passar pelo Steely Dan diversos músicos, que não aguentavam por muito tempo o convívio com o perfeccionismo do duo.

Na sequência de Can´t buy a thrill, vieram Countdown to Ecstasy (1973) e Pretzel Logic (1974), este último é para muitos o auge da banda. Na verdade o Steely Dan fez depois o irregular Kate lied (1975) e seguiram para duas obras-primas; The Royal Scam (1976) e Aja (1977). Tudo o que músicos experimentados e talentosos de jazz deveriam fazer em pró da música está ali. Técnica a favor da emoção. Infelizmente a maior parte dos instrumentistas do estilo resvalam facilmente pra masturbação mental dos free jazz da vida.

A dupla retorna três anos depois com o fraco Gaucho (1980) e voltam a hibernar por vinte anos(!). Quer dizer, continuaram individualmente, sobretudo trabalhando como produtores e lançaram seus discos solo. Em 2000, lançam o aclamado, e premiado com vários Grammys, Two Against Nature, onde retomam o rumo dos seus melhores momentos.

O trabalho mais recente, Everything must go, safra 2003, parece saido de uma adega cuidadosa, onde a música do Steely Dan mantém a alma, o brilho e nos enche de felicidade. Ouça Things i miss the most e tente ficar parado. Dias de sol, noites quentes, amigos, boa bebida. A trilha sonora pode passar por Steely Dan. Tente.


www.steelydan.com

Dr. Cascadura em grande estilo

foto Paulinho (Picnic)

Fábio Cascadura. No detalhe, a capa do cd.

por Nei Bahia

Disco novo da Dr. Cascadura, Vivendo em Grande Estilo, está na área pra quem quiser conferir, terceiro e melhor deles até agora, mostra que uma produção adequada, aliado a muito talento e musicalidade, fazem um grande disco sem fazer muita força. André Tavares foi o Rick Rubin perfeito, dando vazão ao som da banda, sem falar no auxilio luxuoso dos seus teclados. Abaixo, um pequeno manual pra começar a viver em grande estilo:

01. Minha doce senhora
Lirismo e rock & roll na medida certa, boas vindas pra quem vem chegando, pois falar de amor desse jeito é pra pouca gente.

02. Retribuição
Hino é melhor definição pra esse trator que chega ao ouvido sem pedir licença. Rock também é pra dançar, e sem perder o peso, algo como o Grand Funk do século 21, destaque para a letra e o solo de guitarra, um dos melhores do disco.

03. Vivendo em Grande Estilo
Velha conhecida, no disco ganhou o posto de melhor faixa apesar da concorrência duríssima; banda afiadíssima, mais uma pra chamar de hino, a letra é uma receita de como viver sem se enforcar num pé de coentro.

04. Queda Livre
Essa é a "modinha que o povão aprovou"(como diria o finado Bolinha), violão e guitarra em perfeita convivência , uma pérola.Ouçam e comprovem! Parece uma dos Birds com menos vozes.

05. Jóia de Princesa
É hora da psicodelia; uma "pitadinha" de Mutantes no ar, uma tonelada de Beatles fase Revolver guitarras pesando toneladas (grande Martins...ou seria Billy Gibbons?), essa pode ser usada como trilha sonora dos momentos de ausência de consciência.

06. Sparklegirl
A letra sutil pode acabar passando despercebida pelo peso da música, mais preste bem atenção nas imagens que vão se montando na mente.

07. Wendy
Quem disse que canções pra levantar o astral têm que ser idiotas? Melhor arranjo do disco, vozes perfeitas tanto de Fábio quanto dos vocais que acompanham, simplesmente bonito pra caralho; os médicos ainda vão receitar... "Wendy todo dia, logo ao acordar", faz bem pra alma.

08. No Escuro da Capela
Pra quem achava que eles tinham mudado, rock e Soul music juntinhos, pra ajudar a cantar uma letra sensual e muito inteligente, umas das minhas preferidas.

09. Gigante
Genial recriação de uma daquelas histórias que todo mundo conhece, acerta no clima intimista, baixo acústico de Aquático da o tom, nota 10.

10. A Mãe da Garota
Linha evolutiva de "Transa por telepatia", lembra o disco #1, numa das canções mais dançantes do disco.

Se a Cascadura não usa mais ternos nem calças boca de sino, no peito dessa galera ainda bate um coração de soul music, southern rock e r&b. Velho amigo, fique tranqüilo, os caras estão vivendo em grandíssimo estilo ainda.


Entre o Abatedouro e o Inferno

foto Brinkhoff / Morgenburg (www.rbbm.de)


por Fernando Ribeiro

Nick Cave é um roqueiro de texto forte. Faz número à linhagem de Leonard Cohen, Tom Waits e do "man in black" Johnny Cash e divide com eles, como quem carrega um fardo, a missão de cantar o lado obscuro do mundo e da vida. Eu sei, colocado dessa maneira a coisa toda ganha uma aura religiosa, mas é esse o caso. Fascinado pela cultura cristã, Deus, o diabo, o pecado, a culpa e a punição são temas recorrentes e centrais nas letras que Cave faz ecoar em nossos ouvidos, carregadas por guitarras brutais ou piano e cordas suaves, tanto faz.

Sua carreira discográfica começa em 1979 na sua terra natal, a Austrália. A banda se chama Boys Next Door e lançou apenas um disco: "Door, Door". No ano seguinte mudam de nome e de continente e a emblemática The Birthday Party chega a Europa (primeiramente Inglaterra e, em 1982 passa a ter a Alemanha como base). Grava 3 discos e dura até 1983 quando o cantor australiano parte para sua carreira solo, acompanhado pelo The Bad Seeds.

Falar dessa prolífera carreira é mais do que mera digressão quando o assunto é o seu último trabalho, o disco duplo "The Abattoir Blues / The Lyre of Orpheus". O Album, que figura nas listas de melhores do ano dos principais periódicos de rock ao redor do mundo, é uma amálgama irretocável de momentos distintos da carreira desse soturno compositor.

No prefácio que escreveu para uma edição avulsa do Evangelho de São Marcos aparecem algumas pistas do que estava acontecendo na alma do Sr. Cave. Ele relata o interesse que teve pelo antigo testamento nos seus vinte e pouco anos. O Deus raivoso e vingativo ali descrito, despejando sua ira sobre a penitente humanidade condiz com sua descrença ,o interesse por literatura violenta,a fatalidade e na noção de que o mal vive próximo a superfície da existência. "Mas ai você cresce, não?! Você amolece. A compaixão começa a brotar pelas rachaduras de um solo negro e amargo. Sua raiva não precisa mais de um nome. Você não acha mais conforto em observar um Deus insano atormentando uma humanidade desgraçada quando você aprende a perdoar a si e ao mundo".

A transformação do autor se rebate em sua obra. Entre os discos "From Her to Eternity"(1984) - cuja faixa título embalou o amor de um anjo por uma trapezista no filme "Asas do Desejo" - ao sanguinário "Murder Ballads "(1996), bem como na carreira "pré Bad Seeds", vemos o jovem indignado, olhando para os céus com revolta e para a humanidade com descrença (ou vice-versa). No "The Boatman's Call"(1997) e seus sucessores as guitarras nervosas cedem lugar a um piano dramático e cordas limpas. A revolta sublimou em melancolia e beleza (com uma boa dose de compaixão), os climas tempestuosos se tornaram suaves sem perder a substância.

Em "The Abattoir Blues / The Lyre of Orpheus" as duas perspectivas se misturam. Embora o primeiro disco (The Abattoir Blues - o "Blues" do abatedouro) tenha no título uma metáfora para a visão de mundo do jovem Cave, e no segundo ( The Lyre of Orpheus - o drama grego sobre o amor que se encontra, o amor que se perde, a luta para recupera-lo - e ai se tem que descer até o inferno- e o amor que se perde mais uma vez e para sempre) trate da melancolia que habita seus últimos trabalhos, esses elementos dispares estão mesclados em todo o album.

"The Abattoir Blues" é a prova de que o garoto revoltado ainda vive, ou teve que voltar a tona (talvez em resposta a selvageria da política internacional de hoje). A saída de Blixa Bargeld dos Bad Seeds trouxe a solução inesperada de utilizar vocais em coro e elementos acústico para dar mais peso aos climas carregados ( e funciona !). Em contrapartida uma atmosfera elétrica permeia o drama do segundo disco. Músicas como "Get Ready for Love", Hiding All Away", There She Goes, My Bealtifull World", "Easy money" e "Carry me" mostram que Nick Cave, em algum lugar entre o abatedouro do mundo e o inferno dos amores perdidos, encontrou uma nova maneira de compilar suas canções; visita o passado com dignidade e brinda o futuro de sua obra com a esperança que só se pode ter com os artistas que (além da primorosa qualidade estética) não nos deixam saber ao certo o que esperar.


E Deus criou a mulher



por Márcio Martinez

Demora, mas sai. A 'Proto-Punk-Poetisa-Mor' do rock'n'roll tem dessas. Certamente ocupa esses hiatos entre lançamentos com outros afazeres igualmente produtivos, mas que são só da conta dela.


30 anos de carreira, 9 discos lançados! Isso, por si só, já é motivo para considerá-la uma verdadeira lenda viva, e das melhores, dentro do panteão sagrado deste gênero que, injustamente, ou talvez por uma questão de maior proporção, tende a conferir aos homens tal alcunha.

Trampin' é o resultado da espera por (longuíssimos!) quatro anos desde Gung Ho, de 2000. Ainda é a maior. Está tudo lá: riffs possantes, distorcidos, fúria uterina reveladora, inimitável, incomparável, mas também sensível e apaziguadora nos momentos certos, qual uma mãe solícita embalando nos braços sua assustada criança, aliviando a angustia de uma dor.

Quando resolve desplugar, uma brisa de suaves e belíssimas melodias nos carrega em instantes meditativos conscientes. Que o diga 'Trespasses' onde seu verso inicial, 'Life is designed with unfinished lines' (A vida é desenhada com linhas inacabadas) mostra que sua veia poética encontra-se em perfeita forma. 'Stride of the Mind' é um soco no estômago, guitarras em riffs circulares, bateria e baixo cadenciados, com versos rápidos, straight ahead rock'n'roll, estado bruto da matéria. 'Gandhi' é uma daquelas que resumem seu estilo reflexivo, letra meio que narrada, improvisos que se repetem dentro de um mesmo tema passeando por toda a longa faixa, início lento , tensão pelo caminho num crescendo que explode em ira justificada para depois retornar, relaxada, após esse longo gozo elétrico, à forma original e a seu fim. Tem uma mais longa ainda, 'Radio Baghdad' ('Radio Etiopia' revisitada?).

Dentro de seus tão caros temas políticos esta parece encontrar inteira liberdade num improviso de mais de doze minutos, desta vez sim, com sua letra inteira narrada, berrada, cuspida em nossos rostos frios e impotentes, como se o acúmulo de diversos horrores deste conturbado princípio de século, como o 11/09, o Afeganistão e a invasão do Iraque, tivesse feito estourar uma bolha de indignação saturada em seu cérebro e fosse motivo suficiente para quebrar seu silêncio de quatro anos. 'Peaceable Kingdom' é uma melancólica balada, que reflete em sua própria melodia a tão almejada busca pela paz, não só externa como interior quando diz no refrão, após um início nostálgico: 'Maybe one day we'll be strong enough/To build it back again/ Build a peaceable kingdom/Build it back again'.

O cd encerra sua jornada apresentando sua filha, Jesse Smith, num delicado debut ao piano, nenhum outro instrumento a mais, tocando a faixa título em comunhão com a voz morna e hipnótica da mama Patti, mostrando maturidade suficiente para assumir esse magnífico legado responsável, porém independentemente: 'Trampin', a música, é uma canção folk americana de 1931, segundo o próprio encarte uma 'Negro Spiritual', uma simples, mas profunda religiosidade embutida em seus versos repetidos quase como um mantra, só que mais lento. Novamente, aqui, a busca pela paz, nesta vida e além.

11 canções e 63 minutos de pura emoção depois, a conclusão a que se chega é que Patti Smith ainda é autoridade máxima a ser respeitada quando se busca por alguma referência neste espaço autofagista e repetitivo do rock nos dias de hoje.

Só me resta dizer: HALLELUJAH!


Kill me, please

foto divulgação

Echo and the Bunnymen

por Sérgio 'Cebola' Martinez

Fala minha gente amiga. Cá estamos nós escrevendo linhas nesta tela branca de satisfações garantidas ou um beijo de volta, que dinheiro a gente não tem não. Já tava me sentindo obrigado a postar alguns cacos de coisas pensadas porém ainda não ditas, mas é foda, véio, depois de tais noites insanas arremessadas contra manhãs de sol e malditos passarinhos cantantes insistindo em nos alertar: Acabou, acabou!! Mas não acaba não, só recomeça, bem ou mal, quer queiramos ou não, a merda toda e tudo que há de legal também.

Mas eeeeeiii!!! vamos falar de disquinhos esquecidos e outras coisas também, não vai ser só xorumelas não. Me pediram prá colaborar e tô aqui atrapalhando a vida. Foi mal, clashcityrockers e afins pacientes ou sem saco. Prometo ir ao âmago (legal essa palavra, é quase tão boa quanto insensatez, né Sil?). Olha, caras e olhos, no início havia o caos e então alguém assiste aos Irmãos Cara de Pau e a vida tá salva (ou perdida, que diferença faz?). Foi lá amigos e amigas e desafetos sortudos, que prá mim tudo começou. Deviam escutar, o disco tá por aí no oceano virtual, pesquem. E de lá prá cá Stones e Who e Kinks e assim por diante e mais e mais e mais, foi difícil mas prazeiroso.

Eeeeeiii!! alguém aqui conheceu a sensação de esperar meses ou anos por um disco, por uma música, por uma merdinha de notícia de um ídolo distante?? Claro que sim, isso existiu mesmo, portadores felizes de ipods e bandas largas da vida. E os 80's hein hein hein? Pesquem amigos, pesquem coisas como Ocean Rain ou Crocodiles, do Echo, The Mighty Lemon Drops (alguém conhece nome de banda mais legal que esse??), The Big Country, ainda vou falar mais desses caras aí, agora é só um drops de introdução (opa!). Na verdade, além de coisas e causos do passado, também devo me estender sobre coisas e fatos atuais. É só prá dizer que tou vivo, não liguem não. Alguém me mata, por favor?