
Não, você não esta vendo uma foto do Brian Molko, do Placebo. O rapaz de cabelo pink, maquiagem carregada, com caras e bocas ai em cima se chama Daniel Peixoto e é vocalista da banda cearense Montage. O duo de electro rock está na programação do festival Boom Bahia e se apresenta neste sábado, fechando a noite.
Formada em Janeiro de 2005 pelo Daniel Peixoto e por Leco Jucá (groovebox e sintetizadores), os caras seguiram a saga nordestina e migraram pra Sampa no ano passado. Começaram a ficar conhecidos depois da participações em festivais como Abril Pro Rock, Goiania Noise e, sobretudo, pelas duas últimas edições do Campari Rock, quando dividiram o palco com bandas como Justice, Stereo Total e Cardigans. Chamar a atenção não foi difícil. Além de quebrarem a expectativa do lugar comum sonoro que se esperaria de um som vindo do Ceará, a dupla - que eventualmente vira um trio, com a adição de uma guitarra - usa e abusa da teatralidade no palco, ancorada no visual e nos trejeitos andróginos de Daniel.
Musicalmente os caras se dizem influenciados por bandas como Vive la Fete, Daft Punk, Garbage, Peaches, mas também por punk rock, funk carioca e Madonna. Ouvindo músicas como I Trust My Dealer, Ode to My Pills (Benflogin) e Superdrug é possivel, sim, perceber essas influências e também notar que o Montage esta naquele rol de bandas que faz da gestão da sua imagem um ponto tão importante quanto a música que fazem. That's entertainment (industry). Os caras não são novos nisso: Daniel trabalha como modelo profissional e Leco Jucá com produção para a tv.
Para o primeiro album, I Trust My Dealer (2007), se cercaram de Dudu Marote, produtor experimentado que ja fez discos do Skank, Pato Fu, Edgar Scandurra e, entre várias outras coisas, produziu o hit “Só tinha que ser com você”, do Dj Patife e Fernada Porto. O resultado final não é nenhuma revolução musical, mas é acima da média e pode inclusive colocar o Montage no mesmo circuito 'new rave' internacional que o Cansei de Ser Sexy frequenta há dois anos.
Ainda que electro rock não seja a sua, ver o caras no palco nesse sábado pode ser, no mínimo, divertido. E ao final, andrógino, gay ou hetero, se tem um coisa que o rock feito no Brasil perdeu há muito tempo foi a capacidade de mexer com a libido. Pode ser uma tese, mas a verdade é que não faz muito tempo em que em que só estávamos nessa pelo sexo. Em Salvador ninguém vai mais a um show de rock pra ser surpreendido. As noites estão previsíveis e seguras e a probabilidade maior é que niguém coma ninguém. Good times for a change.