Tim Festival 2006

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Pequenas impressões de um grande festival

por Thiago Fernandes


Finalmente, estamos aqui
“Nós somos irmãos”, foi o recado do meio brasileiro baterista dos Strokes, Fabrício, para a platéia do Tim. Isso depois de nos dar um presente realmente fraternal: um show inesquecível. A espera de cinco anos por uma apresentação em terras canarinhas valeu a pena, afinal. Como nos discos, funcionam muito bem ao vivo. Toda a força do som que (mais uma vez) resgatou o rock está lá em cima do palco. E na platéia. Grande parte do show estava na devoção um tanto anestesiante dos fãs, que acompanhavam religiosamente as canções, mesmo as novas, que já se espalharam pelas redes peer-to-peer. Tudo muito bom e muito perfeito. Para finalizar, um tris. Depois da primeira e tradicional volta ao palco, milhares de palmas e pés incansáveis clamando pelo segundo retorno, atendido com um aviso: “só uma música”, no caso, I can’t win. Não é o caso do Strokes, que já venceram e vieram ao Brasil somente mostrar como é doce o gosto da vitória.

A queda dos reis
Leia o comentário sobre o show dos Strokes e inverta. Foram os Kings of Leon no Tim, a grande decepção do festival. Burocrático, fraco, sem tesão. Frustrante, enfim. Sem mais comentários, fique com os discos, que trazem os Reis em muito melhor performance do que no palco do Tim.

Triste beleza
A tristeza e a alegria que se alternam durante o disco de estréia do Arcade Fire estão no show. Mas não como em uma montanha russa emocional, mas sim juntas em todos os momentos. É estranho, mas ao vivo, a sensação é que toda a tristeza das canções do disco dedicado ao companheiro que morreu durante as gravações é o combustível para uma celebração à vida. No palco, sete pessoas felizes pela oportunidade de estar cantando. E só. O resto é mis en scene. Mas muito bem feita, diga-se de passagem. O carrossel de instrumentos é fantástico, com trocas de posição ao longo do show. Ninguém é dono de nenhum instrumento e a cada canção, a banda tem um formação diferente. Um circo que faz parte do espetáculo que é o show do Arcade Fire. Indie até a alma, durante o show, o grupo estava visivelmente impressionado com o coro de quase 2 mil pessoas de um país tão improvável quanto o Brasil, aonde certamente nunca pensaram em se apresentar quando o sucesso que faziam não ia além do Calypso de Montreal.

A vez dos grandes
Rival dos Strokes na categoria “melhor show do festival”. Os anos de estrada, no entanto, fizeram a diferença. O Wilco fez um show de gente grande, com direito a recado para os garotos e para a platéia que : “é assim”. Recado que já se lê nos discos. A dosagem correta de peso, distorção e experimentação da banda estava ainda mais refinada em cima do palco. O maior trabalho foi terminar o show. Depois de assistir meio boquiaberta, a platéia mezzo indie (o Wilco tocou logo após o Arcade Fire) não arredou pé enquanto a banda não voltou pela segunda vez ao palco. Lindo.

O peso dos anos
Tom Verlaine já não agüenta mais tocar I See No Evil. Deixou isso bem claro no show do Tim. Show correto, como não poderia deixar de ser para quem tem um nome a zelar, mas sem a força que se deveria esperar de uma banda do quilate do Television. O prazer de vê-los ao vivo deveria ser maior do que apenas testemunhar um grupo que marcou a história do rock’n’roll. Faltou aquela sensação mágica de que se estava diante de algo único na vida. A impressão é que o grupo está realmente estagnado e nesse caso só há duas opções: ou retomar a criação, com toda a responsabilidade de continuar uma discografia que inclui um disco tão sensacional quanto Marquee Moon; ou acabar de vez a banda e viver das glórias do passado. Sad but true.