Notas de uma fã adolescente
por Bia Ribas
Eu estava lá, em 30 de novembro. Eu, Jeremy, Do The Evolution, Even Flow, Alive e Once. Do alto do morro, via Eddie Vedder iluminado no palco e a multidão de isqueiros e luzes de celulares balançando de um lado para o outro, acompanhando a introdução de Better Man mais emocionante que eu já ouvi (e vi!) em toda a minha vida! Arrepiante! Em português esforçado, entre seus arfantes “ããn” “ããããnn” “ôwn”, Vedder agradeceu ao público, aos brasileiros, elogiou o local e disse que voltaria a tocar ali quando quiséssemos. Num trocadilho com a palavra ‘rock’, o cantor contagiou a platéia quando disse que iria colocar as pedras de volta à Pedreira, naquela noite.
A Pedreira Paulo Leminski, onde aconteceu o show, rodeada por paredões de pedra, com um declive que leva ao palco, já foi uma pedreira de verdade e hoje é o espaço preferido do circuito dos grandes shows realizados em Curitiba. Noite de deleite, mesmo que no universo de uma música – sempre a mesma –, para os fãs dos Ramones que, como eu, quase choraram com a versão para I Believe in Miracles, dedicada ao Johnny. Em Porto Alegre, no primeiro show da turnê, o Marky foi convidado especial (sim, conheço o Marky, apertei sua mão, conversei com ele e tenho seu autógrafo no verso do meu bilhete de número 0001 do show que fez na Concha no dia 8/10/2000!). Em Curitiba, o Mark Arm da Mudhoney entrou no palco com a referência do fantástico MC5 no grito do Vedder “Kick out the jams motherfuckers!” e lançou um Kick out the jams com a banda toda. Foi muito bom!
As duas horas e pouco de Pearl Jam ao vivo e em cores, mesmo que sem telões (pasmem!) e com uma acústica meia-boca para o local que os curitibanos escolheram como crème de la crème do circuito dos grandes shows, valeu qualquer esforço. Com uma amiga eu comentava sobre a estrutura dos shows de axé que temos aqui em Salvador e a estrutura que estávamos vendo ali. Pearl Jam na Fonte Nova seria o máximo com os três telões da Ivete Sangalo e a infra do show do seu DVD. Pearl Jam, gente!! Pena que a estética trio elétrico não combina com rock’n roll. Por mim, eu botava os caras num trio elétrico e parava na Castro Alves a todo volume! É o Pearl Jam, curitibanos!!!
Ignoro os shows que já tiveram ali na Pedreira, mas esse foi de doer!! Para um público de, como dizem, cerca de 23 mil pessoas, seis barraquinhas de venda de bebidas, é meio apertado, não? Cerveja quente a 5 reais a lata de Schin, que acabou às 22h30, mesmo com os enormes avisos de "Só será permitido o consumo de bebida alcoólica até as 21h30". Depois disso, só água. Água??? Onde estou?? Bom, mas pelo menos eu posso dizer que vi o Vedder ali, na minha frente, um pouco distante, mas na minha frente, sentado num banquinho ao lado de um fã numa cadeira de rodas, cantando Yellow Ledbetter. E dizer também que vi o cara de um lado pro outro, bebendo vinho (ou o que estivesse naquela garrafa), abrindo os braços e ajoelhando perto da platéia, balançando seus cabelos como só ele faz, falando português (ou mais ou menos isso) no meu país. Eu, Corduroy, Jeremy, Dissident, Lukin, Do The Evolution, Even Flow, Black, Spin the Black Circle, Alive, Once, Whipping, e a minha adolescência.