por Sérgio 'Cebola' Martinez
1967-1972. Lições Básicas em 5 anos.
Em 1968, o rock ensaiva um retorno às suas raízes. Neste ano, Os Beatles lançaram o White Album, em que deixava um pouco de lado o arco-íris psicodélico de seus discos anteriores. The Byrds unia-se a Gram Parsons para enveredar pelos pastos e veredas da música country, com o seminal Sweet Heart of the Rodeo. The Band lança o não menos fundamental Songs from the Big Pink, onde folk, country, rock balads, bluegrass e gospels fuandiam-se em harmonias simples, porém sensíveis e emotivas. Rolling Stones cometem Beggar´s Banket, um dos melhores de sua carreira até hoje, na mesma praia country/blues. E assim por diante, temos exemplos diversos e dos mais variados graus, e é deste ano também, o lançamento do primeiro disco do Creedence Clearwater Revival, reforçando a guinada para o básico, para o berço do rock ´n´ roll.
Formada pelos irmãos John Fogerty ( voz e guitarra), Tom Fogerty (guitarra), mais Stu Cook (baixo) e Doug Clifford ( bateria) ainda em 1967, o Creedence ficou conhecido como uma banda de singles. Ok, seus álbuns eram fantásticos, mas, como que reafirmando o padrão do início do rock, na década de 50, funcionavam quase que como uma coleção de singles, onde a pedra fundamental, o cerne do trabalho, eram as canções que, individualmente, definiam a essência da banda. John Fogerty, fã de rockabilly, country, blues e soul, era o gênio por trás da máquina de compactos inesquecíveis que se tornara a banda. Quem não se lembra de Proud Mary, Green River, Have you Ever Seen The Rain, Bad Moon Rising, Fortunate Son, Travelling Band, e tantas outras que, se não reconhecíveis pelo nome, certamente seriam em qualquer audição ligeira.
Isso por si só já bastaria pra qualquer banda ter material suficiente pra uma carreira inteira. Mas daí vem aquele toque diferencial. Aquele "pequeno" detalhe que catapulta o Creedence ao posto de uma das maiores e mais influentes bandas americanas da história. John Fogerty era um fuckin´ gênio da guitarra, só isso. Nos álbuns da banda sempre havia duas ou três músicas que funcionavam como uma tapeçaria de timbres, fraseados, riffs poderosos, texturas e dinâmicas incendiárias, de silêncios e explosões cuidadosamente costurados, matematicamente libertários. Essas canções fugiam da estrutura "clássica" do creedence, com 7, 8 ou mais minutos de duração, sem cansar nem tirar de cima. As versões para Susie Q e Heard in through the Gapevine, as suas Effigy, Feelin´ Blue, Born on the Bayou, Graveyard train, Pagan Baby e outras estão nesta categoria. Swamp rock, letras sinistras, de "mau agouro", tudo isso era também o Creedence. Ah, antes que eu me esqueça, muita soul music. Isso aí, soul e country no mesmo caldeirão. Unidas sem traumas, sem forçar a barra, fluente e natural como deve ser. A voz, por vezes explosiva e gutural, Little Richards style, por vezes contida e emocional, de John Fogerty é um capítulo à parte. Na melhor corrente blues/soul man de ser.
Nesses tempos de busca desesperada pela próxima grande coisa, talvez seja tempo de parar um pouco, pra dar um tempo, relaxar (sorry Fábio Casca), fazer um pequeno retorno e tentar ouvir obras primas como Green River (1969), Willy and The Poor Boys (1969, meu preferido), Cosmo´s Factory (1970). Esses, pelo menos. Podes crer que não se arrependerá. Ou, se quiser ser apanhado mais rápido, tempos velozes são esses que correm, ouça Fortunate Son e It Came out of the Sky, ambos do Willy, que aí não vai ter jeito. É calça de fora ou bunda de veludo, como diria irmã Dulce.
Em 1972, a banda lança seu último disco de inéditas, Mardi Grass, meio fraquinho, onde John passa a dividir as composições com Doug e Stu, após a saída do seu irmão. Mas bastaram esses cinco anos para mais um capítulo desta História ser impresso a ferro e fogo em uma das estações dessa longa e emocionante saga chamada Rock´n´Roll.