por Yara Vasku
Pouca coisa se salva (penso eu!) nesta onda revival dos anos 80. Uma delas é o grupo de garotas mais radicais que o rock brasileiro já viu: As Mercenárias. Além de reviver o som delas, em meio a “moda” dos oitenta, o momento é de comemorar a volta do grupo. Isso mesmo. As Mercenárias – e seu ataque supersônico, sua fúria e catarse – estão de volta desde fevereiro deste ano.
Provas não faltam. A banda paulista de pós-punk se apresentou no Campari Rock, no dia 13 de agosto, como uma das principais atrações da noite do festival que aconteceu em São Paulo, capital. Outros shows já foram realizados e outros tantos vêm por aí, inclusive em Londres (Inglaterra).
Outra prova é a inclusão da banda na coletânea “Post Punk From São Paulo – The Sexual Life of the Savages”, do selo inglês Soul Jazz, que traz ainda Fellini, Akira S e as Garotas que Erraram, Nau, Smack e Gueto. As Mercenárias abrem o disco com as clássicas “Inimigo” e “Pânico”.
Esta gravadora também é responsável pelo compacto em vinil “Pânico/Rock Europeu” que traz As Mercenárias de um lado e Fellini do outro; e deve lançar uma compilação dos dois únicos discos lançados pelas Mercenárias. Músicas das garotas aparecem ainda (ao lado de Fellini e Akira S, Voluntários da Pátria, Vzyadoq Moe, Muzak, Azul 29, etc) na coletânea “Não Wave”, que cobre o período de 1982 a 1988, lançada pelo pequeno selo alemão Man Recordings.
Tudo isso mostra o interesse, especialmente da Europa, para a música underground feita na década de 80 em São Paulo. Dizem que depois dos revivals da Bossa Nova e Tropicália, entre outros gêneros, é a vez dos grupos de punk e pós-punk serem descobertos pelo mercado internacional.
E, em meio a este interesse todo, As Mercenárias ganham destaque, provando que o grupo entrou para a história do rock nacional como um dos mais importantes para aquela década.
É isso aí. Quando se fala da história do rock brasileiro não dá para deixar de lado o som da banda que agradava tanto os fãs de porrada tipo Ramones e Sex Pistols, quanto os amantes de canções mais climáticas do tipo de Siouxie and the Banshees e Joy Division. Bem antes, diga-se de passagem, de o Bikini Kill inaugurar, em Washington, 1990, a chamada onda de punk hardcore feminista.
O grupo teve sua estréia em fevereiro de 1983, com um cara entre as garotas. A formação inicial era: voz e presença furiosa de Rosália Munhoz; musicalidade e postura rocker da baixista Sandra Coutinho; navalhadas e trovoadas na guitarra pela tímida Ana Machado; e na bateria Edgard Scandurra – hoje guitarrista do Ira!. Antes da gravação do primeiro disco “Cadê as Armas?” (Baratos Afins, 1986), Scandurra saiu da banda dando lugar à Lou. Esta foi a formação até o final, logo após o lançamento do segundo (e último) disco, “Trashland”, pela EMI, em 1988.
Este álbum foi eleito o melhor do ano na votação da revista Bizz, que reuniu também críticos de outras publicações, de vários lugares do país. Na mesma eleição, “Trashland” ganhou o prêmio de melhor capa (obra de Michel Spitale, atualmente diretor de arte da Playboy) e Sandra Coutinho com o de melhor baixista. No final do mesmo ano, porém, a gravadora dispensou a banda que, conseqüentemente, acabou. Em sua curta duração, no entanto, As Mercenárias arrastavam muitos fãs para os “inferninhos” do underground paulistano na década de 80, conquistando assim, com pouca divulgação, mas bons shows e excelentes álbuns, fiéis seguidores.
Agora é possível curtir a banda novamente, mas desta vez com Geórgia Branco na guitarra e Pitchu Ferraz na bateria. A presença de palco de Rosália Munhoz, e a firmeza de Sandra Coutinho no baixo, porém, permanecem e podem ser (novamente) conferidas. De acordo com Sandra Coutinho, nesta retomada da carreira, As Mercenárias vão tocar as canções dos dois discos lançados em 80, como “Pânico”, “Inimigo”, “Polícia”, “Me Perco Nesse Tempo”, além de músicas ‘quase desconhecidas’. Ela explica que, quem conhece a banda só pelos discos, não conhece estas músicas, pois nunca chegaram a ser gravadas. Temos uma nova chance!!