O vídeo matou a estrela do rádio


Talking Heads, na vanguarda do clip
por Miguel Cordeiro

O videoclipe é o melhor meio para a divulgação de uma canção e tem sido assim nos últimos 25 anos. Antes de 1978 existiam os filmezinhos promocionais - promos, que as bandas e artistas faziam de uma determinada música para promover aquele trabalho que estavam lançando. A maioria destes promos era desprovida de grandes efeitos visuais, e se limitavam, basicamente, a focar os seus autores executando a sua canção.

Bem, é certo que ainda nos anos 1960 existiram exemplos de alguns promos mais sofisticados e que funcionaram como precursores do videoclipe: Penny Lane e Strawberry Fields Forever dos Beatles, Happy Jack do The Who, Arnold Layne do Pink Floyd. Já nos anos 1970, personalidades com inclinações estéticas mais apuradas souberam lidar com esta questão visual dos promos de maneira criativa e extrapolando o seu formato. Neste caso estão David Bowie, Roxy Music e aqui no Brasil o próprio Raul Seixas - o promo da canção Gita é exemplo de sofisticação plástica.

Mas foi no pós-punk, a partir de 1978, que a preocupação em realizar filmezinhos musicais ganhou força, facilitada pelo surgimento das câmeras de vídeocassete e, também, pelo ambiente de criatividade e inquietação artística de um grupo de pessoas envolvidas com os músicos daquela geração. E elas souberam tirar proveito destas circunstâncias. David Byrne do Talking Heads concebeu para a sua banda ótimos clipes. O Duran Duran, Spandau Ballet e outros grupos da cena new romantic foram beneficiados pelos videoclipes e obtiveram grande sucesso devido a eles. David Bowie, um artista que sempre foi envolvido em experiências inovadoras, ao lançar o álbum Scary Monsters de 1980, escolheu a canção Ashes to Ashes como tema para um vídeo, o qual veio a ser um marco na história dos clipes musicais. Com uma refinada produção e um roteiro repleto de imagens surreais, este trabalho foi considerado uma obra de arte.

Sem dúvida, entre 1978 e 1983, no máximo 1985, surgiram os videoclipes mais criativos. Talvez porque neste período eles eram bolados, dirigidos, editados e produzidos por pessoas próximas aos músicos, e com idéias originais e pouca grana souberam passar para imagens situações instigantes.

Na virada dos anos 1970 para os anos 1980 estações de TV da Inglaterra exibiam inúmeras canções em forma de vídeo e elas começaram a cair no gosto popular. Daí para o surgimento da MTV - Music Television, em meados de 1981, foi um pulo. Esta fase inicial da MTV representou uma era de inocência, e, talvez, por isso mesmo, foi muito interessante e inovadora. Mas quando os departamentos de marketing das gravadoras perceberam o avassalador poder dos videoclipes a coisa começou a degringolar.

Os filmezinhos, que antes eram feitos por “amadores” e amigos parceiros dos músicos passaram a ser concebidos nos escritórios refrigerados das agências de publicidade por pessoas com interesse apenas mercantilista e alheias ao meio musical. Assim, começaram a pipocar na tela da MTV os clipes modernosos de enquadramentos oblíquos e invertidos, com sucessão de imagens rápidas e rodados em ambientes enfumaçados. E estas características se tornaram um clichê enfadonho a encobrir a falta de idéias e baixa qualidade dos seus roteiros.

Os Estados Unidos são pródigos nesta estratégia de massificação e banalização cultural e com o videoclipe a história não poderia ser diferente. E ao longo dos anos 1980 vimos surgir uma enorme quantidade de bandas que foram armadas e que cujas canções foram compostas com o objetivo único e exclusivo de se tornarem clipes, tendo o interesse focado em agradar o gosto médio e conservador do telespectador.

O grau de sofisticação dos clipes chegou a tal ponto que até renomados diretores de cinema foram escalados para filmá-los e dirigi-los. John Landis e Spike Lee fizeram clipes para Michael Jackson. O diretor alemão Wim Wenders fez o mesmo com o U2. Alguns criadores de clipes também fizeram o caminho inverso e se tornaram diretores de cinema, que é o caso de Julian Temple.

Por outro lado, muitos artistas que vinham utilizando os videoclipes como plataformas de divulgação de seus lançamentos se retraíram e passaram a questionar ou, mesmo, negar esta estratégia sob a alegação que o videoclipe limitava a percepção da canção a apenas aquela seqüência de imagens nele mostrada. Outros artistas, de proposta mais independente em relação às grandes gravadoras e que, ironicamente, foram os responsáveis pela consolidação desta nova mídia foram atropelados pelos artistas “comerciais” cujos clipes eram patrocinados pelos grandes conglomerados do showbizz.

Mas, postas todas estas situações de lado, não se pode negar a importância do videoclipe para a trajetória do rock´n´roll, e mesmo em meio a mediocridade pós-1985 ainda surgem coisas interessantes neste universo. É só ficar atento. E, então, para você, quais os clipes que te marcaram e que você nunca esqueceu?