Pirataria ou coisa assim - Parte II



por Nei Bahia

Era uma vez um cara que queria mandar umas músicas em formato mp3 para uns amigos, mais não conseguia. Por e-mail não dava, os arquivos ainda eram muito grandes; por ftp a Universidade não deixava, pois era um assunto pessoal, não acadêmico. Ele se queixou na cantina da faculdade e outro estudante ouviu, se interessou e foi tentar conseguir resolver o dilema. Nome dele: Shaw Fenning. Disso nasceu o Napster: a maior ação individual que a Internet gerou até hoje. As chamadas redes Peer to Peer (em bom português, rede que ligam usuário a usuário de forma descentralizada) meteram uma espada no coração da indústria da música e o monstro só fez crescer e ficar mais perigoso. Kazza, WinMX, Limeware, Áudio Galaxy são alguns dos filhos anabolizados dele. O universo das raridades foi talvez mais abalado que a parte formal da indústria musical.

O que era raro afinal de contas?

De repente, o que era exclusividade de uns poucos, a um click podia ser seu!

Porém, como muita coisa que circulava pelo colecionadores não tinha perfeição técnica, o formato mp3 apresentava um problema: como há perdas em algumas freqüências, era preciso achar uma alternativa. Daí nascem os chamados formatos “noless”, sendo o SHN e o Flac os que mais se tornaram comuns. Esses mesmo colecionadores também não se acostumaram com a forma caótica dos arquivos mp3 aparecerem. O sistema Furthur, desenvolvido por fãs das chamadas Jam bands americanas (Greatful Dead na pole position), onde shows completos eram trocados através de uma rede específica, foi uma das formas de tornar a troca de gravações raras mais disciplinada. Isso só foi possível com o aumento dos acessos via banda larga.

Eu pessoalmente utilizei muito esse sistema, que funcionava com uma peculiaridade: as buscas eram feitas a partir de uma lista de artistas que autorizava a gravação e a difusão pela rede desses registros. Cabe aí uma lembrança sobre as atitudes que alguns artistas tiveram sobre pirataria. O Black Crowes chegou a reservar um espaço pra quem quisesse gravar seus shows, com direito a área reservada na platéia pontos de energia pra ligar os equipamentos de gravação, (além de também participarem do sistema Furthur). Frank Zappa comprou piratas pra depois fazer sua próprias edições deles, sem mexer em quase nada (a série chamava Beat the Boots), ao contrário da “Bootleg series” de Bob Dylan (primeira parte desra série), onde as gravações receberam tratamento sonoro e parte gráfica especial.

Quando eu poderia imaginar que um dia ia ter problemas de onde colocar tantos piratas do Stones (tenho a série Ultra Rare Trax quase toda), ter mais de 20 bootlegs do Van Halen, ter shows de bandas como Bad Brains, Rollins Band, Living Colour e Mothers Finest como uma coisa comum, “descartar” coisas do Led Zeppelin, só ficando com aquilo que tinha boa qualidade sonora e da época que mais me agradava. Até o acabamento está facilitado, com milhares de sites contendo capas e encartes para essas gravações. Nesse ponto recomendo uma visita só pra ilustrar ao “Zeppelin Art” , onde você pode ter noção do que circula por aí de coisas do Led, assim como a “VH boots” que faz o mesmo com a maior banda americana de todos os tempos.

Com a velocidade que Internet se otimiza, o negócio tá ficando cada vez melhor. Agora o domínio é do Bittorrent, sistema de download que onde a contrário de tudo que venho antes dele, quanto mais gente tiver acessando o arquivo, mais rápido ele será completado. Sua capacidade torna possível DVD´s inteiros serem trocados pela rede. Coisas como “Cocksucker Blues”, documentário maldito de uma tour do Stones, com imagens feitas em aviões e hotéis no início da década de 70 de repente se tornam quase vulgar.

Por fim fica a dúvida: o que é a obra de arte hoje?

Um serviço?

Um bem?

Acho que nenhum deles, ou todos eles juntos. Alguém se arrisca num palpite?