Urucubaca Blues



Governo do Brasil / Ricardo Stuckert

Lula ‘tira uma onda’ com a guitarra de Kravitz

por Miguel Cordeiro

Muitas são as semelhanças entre Lula e Collor apesar da cartilha, supostamente, diferente e antagônica. Ambos utilizaram a mídia e o marketing com voracidade. Collor exibia em suas camisetas mensagens da sua própria filosofia. Lula coloca inúmeros bonés na cabeça e faz uso de metáforas para divulgar aquilo que ele acha que sejam atos do seu governo. Collor tinha PC Farias e justificou suas maracutaias através da Operação Uruguai. Lula tem Delúbio Soares & Marcus Valério e justificou suas bandalheiras com a prática do caixa dois. Collor se dizia atleta e andava de jet ski nos lagos de Brasilia. Lula se diz um craque e joga pelada nos campos do palácio. Collor gostava de MPB e musica sertaneja. Lula curte MPB, venera Zeca Pagodinho e gosta de música sertaneja. Collor tinha um forte apelo popular, era apoiado pelas camadas menos esclarecidas e se elegeu com a ajuda da direita oligárquica. Lula tem um discurso lapidado para atingir as massas e as camadas menos esclarecidas e foi eleito com o apoio da direita oligárquica (Sarney e ACM). Collor teve em Renan Calheiros um importante aliado e que foi integrante da sua tropa de choque. Lula tem em Renan Calheiros um importante aliado e que integra a sua tropa de choque. O esquema de corrupção do governo Collor envolveu um automóvel: uma Fiat Elba, uma carroça como se dizia naquela época. O esquema de corrupção do governo Lula também envolveu um automóvel: um Land Rover, um jipão sofisticado.

Enfim, Collor e Lula correspondem aos lados opostos de uma mesma moeda num universo que se move dentro de parâmetros mutáveis e dinâmicos. Neste inicio do século 21 tanto a esperteza capitalista selvagem de Collor quanto a falsa ingenuidade bolchevique de Lula são propostas obsoletas e inúteis.

Lula escolheu Gilberto Gil para ser seu ministro da cultura e para dinamizar, incentivar e inovar a burocracia cultural do estado. Mas o que Gil fez de relevante, em termos práticos, até agora? Muito pouco. Trabalhou e deu expediente (?!!) no ministério e fez shows pelo mundo afora cacifado pelo cargo oficial de ministro de estado. Acompanhou o presidente em viagens internacionais aproveitando os eventos diplomáticos para dançar ou dar uma canja. Dividiu burocraticamente, teoricamente e de forma autoritária a cultura em dois tipos. Uma de elite (no linguajar do presidente, “da zelite”) com significado pejorativo e que seria feita por pessoas de nível cultural mais “sofisticado” e porisso, dentro da visão bolchevique, uma manifestação burguesa e desprezível; e uma outra “popular”, que “emana do povo” e produzida por pessoas sem refinamento cultural, e assim, dentro desta mesma visão bolchevique, uma manifestação autêntica e cheia de virtudes.

O ministério de Gil também tentou fazer um controle da produção cultural através da famigerada Ancinav. Também não incentivou nem promoveu a diversidade em regiões onde o coronelismo cultural ainda impera. Existe o Gil que vai ao Tim Festival assistir o Brian Wilson dos Beach Boys, que ele considera um "gênio" e existe o Gil que vai ao festival de grupos folclóricos do interior do Piauí, que ele diz serem "geniais". Mais político, impossível. Mais demagogo, impossível.

Antes da era Lula era chique o artista e o intelectual serem de esquerda. E eles eram figurinha fácil nos meios de comunicação dando pitacos, apontando o dedo para a corrupção e fazendo críticas ferrenhas aos governos de então. Para eles Lula era quase uma entidade divina, uma espécie de ilusionista que num passe de mágica resolveria todas as nossas mazelas. E agora depois de Delúbio Soares, Zé Dirceu, do mensalão e dos dólares na cueca os intelectuais e artistas de esquerda sumiram, ficaram mudos. Mergulharam num silêncio cúmplice e covarde prestando um grande desserviço ao Brasil.

Estamos vivendo um momento importantíssimo da nossa história e não devemos fazer de conta de que nada está acontecendo. Estamos no fundo de um poço fétido, enganados por um bando de gente que pregava a ética e a moralidade, e que ao chegarem ao poder se revelaram iguais a todos os outros que já passaram por lá, deixando evidente um enorme despreparo e nenhum projeto de governo. E, paradoxalmente, as únicas coisas que ainda mantém este governo em pé é o continuísmo de políticas iniciadas por administrações anteriores, algumas delas rebatizadas com outro nome e acompanhadas por uma avassaladora publicidade como se eles fossem os inventores da roda. O que estamos assistindo é apenas um projeto de se manter no poder através de práticas abomináveis. Tem ainda alguém aí que acredita?