Pirataria ou coisa assim



Por Nei Bahia

Você passa na rua e ouve alguém gritando:

- Dvd é 8, cd é 3!! ...chega mais perto e vê que os shows do U2 e dos Stones já podem ser comprados nos mais variados formatos. Onde tudo começou?

Peça a sua máquina do tempo pra te levar até os anos 40, nos clubes de jazz de Nova York e Los Angeles e lá vc já vai encontrar fãs gravando Charlie Parker e companhia. Graças a esses caras, uma parte da história do Jazz pôde ser contada, mais especificamente o nascimento do Bebop. Mas porque pirata?

O nascimento da expressão vem das rádios comerciais surgidas na Inglaterra depois do fim da segunda guerra. Como a radiodifusão era monopólio da BBC alguns empresários tiveram a idéia de colocar em barcos, transmissores de ondas curtas em águas internacionais e apontar suas antenas para o território da rainha. Essas rádios tinham inclusive patrocinadores, algo impensável para Inglaterra, mas banal nos EUA. O outro nome que os discos com raridades e gravações não autorizadas ganharam e que se tornou o mais usado para se distanciar da expressão “pirata” que passou a ser usada também para imitações de produtos famosos é “bootleg”. Ele vem da época da lei seca, onde nos EUA se proibiu vender álcool, algumas pessoas passaram a trazer no cano das botas de montaria algumas garrafinhas de Bourbon canadense; isso antes de Al Capone facilitar as coisas.

Os bootlegs são um caminho alternativo para você conhecer a história de um artista. Neles vão estar as primeiras versões daquilo que depois virou sucesso, ou não, as vezes com letras ou arranjos diferentes. Também estão lá os covers que revelam com clareza as influências de cada artista. As vezes acabam revelando a quanto era diferente o trabalho do artista, como o tempo se encarregou de mudar o modo de pensar dele. Bob Dylan é um caso clássico; os bootlegs mostram a sua passagem de bardo folk para o primeiro poeta do rock’n’roll (ilustrando essa matéria está a capa de um deles), que seguido pelos discos oficiais faltava algumas peças. Ele mesmo sempre soube disso, tanto que foi um dos artistas que lançou gravações antes ilegais, que já está no seu volume 7 e sem cara que vai parar tão cedo.

Os piratas podem aparecer de várias formas, mais 3 delas são mais tradicionais:
- gravação de show direto das mesa, as vezes por ter havido transmissão de rádio ou TV, mais na maioria dos casos através algum “acordo” com um técnico de som;
- out-takes; aquelas coisinhas que ficam no fundo do baú, que não agradaram de alguma forma, mais que alguém “vacila”, e como num passe de mágica aparecem para deleite dos mortais;
- gravações de platéia, que são as de pior qualidade, produto da paciência de um fã que se propõe a ficar 2 horas com um gravador captando no que rola no show.

A partir dos anos 70 aparecem os selos piratas, na maioria na Itália e na Alemanha, onde brechas na legislação tornavam possível comercializar os discos e vender para o resto do mundo. Essas gravadoras chegaram até a era do cd e ainda hoje, mesmo depois do gravador de cd ficar mais vulgar que um ferro elétrico, ainda sobrevivem. Swinging pig, KTS, Live storm , são alguns dos mais famosos, além da Octopus, que apareceu só na fase dos cds , e se apresentava como vinda da Tchecoslováquia.

Só que tudo isso foi atropelado por um furação chamado Internet, que mudou todos os paradigmas no que diz respeito ao acesso a gravações de shows e o conceito de raridade de uma gravação foi simplesmente pulverizado. Mas, isso é assunto para a segundo parte da nossa saga.