por M. Rodrigues
A década de noventa, como todo 'fin-de-siécle', foi um tanto quanto conturbada. Começou com a queda do muro de Berlim e terminou deixando as incertezas políticas para o novo século. No terreno do rock'n'roll não foi diferente.
Dos acordes Sabbathianos de Seattle, passando pelos crossovers de funk, metal e punk da Califórnia e chegando até a profusão de bandas 'indies' que não sabiam se queriam ser Pixies, Jesus and Mary Chain ou Sonic Youth, os noventa avançaram no embate com regionalismos, eletrônica e muita, muita caretice. Honrosas exceções à parte, é claro.
Por aqui virou lei cair no discurso fácil do 'pra ser global tem que ser local'. E assim, numa quase unanimidade, 1993 viu pipocar de norte a sul do Brasil um monte de bandas, que em busca de achar saídas para o lugar comum da globalização, correu atrás da sua 'identidade'. Mesmo que pra isso fosse necessário inventá-la.
Não mais que de repente fazer 'só' rock'n'roll era um equívoco. O negócio era misturar caxinguelê com guitarra distorcida, carimbó com tatuagens, maracatu com drum machines e samba-de-roda com scratchs e cara de mal. Samba do branco doido, devidamente embalado para os festivais de Montreaux da vida, que ainda ecoam nos Casarões da parte baixa da cidade da Bahia. Nunca fomos tão brasileiros.
A Inglaterra, blasé como sempre, recusou a moeda da Comunidade Européia e a culpa pequeno-burguesa do mundo civilizado. Passou pela eletrônica com a altivez da realeza e de quem já havia elaborado tudo no 'Hacienda', em Manchester desde as batidas perfeitas (acorda D2!) de 'Blue Monday', do New Order. Massive Attack, Portishead, Morcheeba, Tricky. Melancolia, musicalidade e sofisticação no Trip Hop e no Acid Jazz. O olhar pra frente de quem é MODerno e ainda pode dançar. Happy Mondays, Stone Roses e Primal Scream.
Enquanto o resto do mundo agredia os tímpanos com hiphop padrão MTV e noise vazio, algumas bandas inglesas pegavam o trem rumo ao lugar ainda inesgotado das melodias e voltavam a mostrar sentido onde os arautos do caos improdutivo tentavam enterrar a música pop e, sobretudo, o rock'n'roll. Dessa diversidade, catalogada no elástico rótulo da 'britpop', sobressai a brisa revigorante do Ocean Colour Scene.
O OCS, da cidade de Birmingham, é uma banda de músicos talentosos; o que, em Soterópolis, nos dias que correm, conta pontos contra (sic). Steve Cradock (guitarra, teclados), Simon Fowler (voz, guitarra, harmonica), Damon Minchella (baixo) e Oscar Harrison (bateria); uma banda de verdade. Além de serem também compositores inspirados, calcados na linha do modern rock inglês; Small Faces, Kinks, Beatles (fase Rubber Soul), Who, The Jam, Stone Roses.
A década de noventa, como todo 'fin-de-siécle', foi um tanto quanto conturbada. Começou com a queda do muro de Berlim e terminou deixando as incertezas políticas para o novo século. No terreno do rock'n'roll não foi diferente.
Dos acordes Sabbathianos de Seattle, passando pelos crossovers de funk, metal e punk da Califórnia e chegando até a profusão de bandas 'indies' que não sabiam se queriam ser Pixies, Jesus and Mary Chain ou Sonic Youth, os noventa avançaram no embate com regionalismos, eletrônica e muita, muita caretice. Honrosas exceções à parte, é claro.
Por aqui virou lei cair no discurso fácil do 'pra ser global tem que ser local'. E assim, numa quase unanimidade, 1993 viu pipocar de norte a sul do Brasil um monte de bandas, que em busca de achar saídas para o lugar comum da globalização, correu atrás da sua 'identidade'. Mesmo que pra isso fosse necessário inventá-la.
Não mais que de repente fazer 'só' rock'n'roll era um equívoco. O negócio era misturar caxinguelê com guitarra distorcida, carimbó com tatuagens, maracatu com drum machines e samba-de-roda com scratchs e cara de mal. Samba do branco doido, devidamente embalado para os festivais de Montreaux da vida, que ainda ecoam nos Casarões da parte baixa da cidade da Bahia. Nunca fomos tão brasileiros.
A Inglaterra, blasé como sempre, recusou a moeda da Comunidade Européia e a culpa pequeno-burguesa do mundo civilizado. Passou pela eletrônica com a altivez da realeza e de quem já havia elaborado tudo no 'Hacienda', em Manchester desde as batidas perfeitas (acorda D2!) de 'Blue Monday', do New Order. Massive Attack, Portishead, Morcheeba, Tricky. Melancolia, musicalidade e sofisticação no Trip Hop e no Acid Jazz. O olhar pra frente de quem é MODerno e ainda pode dançar. Happy Mondays, Stone Roses e Primal Scream.
Enquanto o resto do mundo agredia os tímpanos com hiphop padrão MTV e noise vazio, algumas bandas inglesas pegavam o trem rumo ao lugar ainda inesgotado das melodias e voltavam a mostrar sentido onde os arautos do caos improdutivo tentavam enterrar a música pop e, sobretudo, o rock'n'roll. Dessa diversidade, catalogada no elástico rótulo da 'britpop', sobressai a brisa revigorante do Ocean Colour Scene.
O OCS, da cidade de Birmingham, é uma banda de músicos talentosos; o que, em Soterópolis, nos dias que correm, conta pontos contra (sic). Steve Cradock (guitarra, teclados), Simon Fowler (voz, guitarra, harmonica), Damon Minchella (baixo) e Oscar Harrison (bateria); uma banda de verdade. Além de serem também compositores inspirados, calcados na linha do modern rock inglês; Small Faces, Kinks, Beatles (fase Rubber Soul), Who, The Jam, Stone Roses.
Começaram, por volta de 93, como banda de apoio do 'modfather' Paul Weller e logo depois estavam abrindo a tournée de 94 do Oasis, por convite do próprio Noel Gallagher que, no melhor humor inglês, elogiava a banda dizendo que o OCS era "a segunda melhor banda britânica". Weller também participou das gravações do álbum Moseley Shoals, tocando órgão, piano, guitarra e fazendo backing vocals.
É fato que a tour com o Oasis e as declarações dos irmãos Gallagher ajudaram a alavancar o conhecimento sobre o OCS nas ilhas britânicas. O mesmo já não pode ser dito da popularidade do grupo fora da Inglaterra. O Ocean Colour Scene ficou obscurecido numa época de boys bands e outras crias dos laboratórios da indústria fonográfica. O som, no entanto, ganhou com isso. Uma série de álbuns vigorosos, feitos de carne e sangue, alheios às tendências bárbaras, foram permeando a carreira da banda. Canções em que nos pegamos, sem querer, cantarolando pelas ruas. Uma sensação boa, de um mundo com possibilidades, de felicidade nas coisas pequenas e imprescindíveis; "you and i should ride the coast / and wind up in our favourite coats just miles away / roll a number write another song / like Jimmy heard the day he caught the train.
Em pouco mais de uma década de carreira, o OCS já fez cerca de onze álbuns, contando coletâneas e gravações ao vivo. O último a sair, o novíssimo A Hyperactive Workout for the Flying Squad, mostra que a 'pegada' da banda continua segura. Ouça 'Start of Day', 'Drive away' ou 'Free my name'. Ou ainda 'My Time', onde a veia soul - um dos pilares do som Mod - sobressai, e te deixa bastante triste se não tiver alguém especial ao lado pra dançar juntinho. Está tudo ali. Acordes mágicos em timbres que só uma Rickenbacker tem; o vocal rasgado e preciso; melodias que celebram o fato de estarmos vivos; rock'n'roll como deve ser. Uma vontade enorme de seguir em frente. Pegando o trem certo da história, é claro.
_______________
Discografia recomendada: Moseley Shoals (1996), Marchin´already (1997), Songs from the front row - coletânea (2001), North Atlantic Drift (2003), A hyperactive workout for the flying squad (2005).
É fato que a tour com o Oasis e as declarações dos irmãos Gallagher ajudaram a alavancar o conhecimento sobre o OCS nas ilhas britânicas. O mesmo já não pode ser dito da popularidade do grupo fora da Inglaterra. O Ocean Colour Scene ficou obscurecido numa época de boys bands e outras crias dos laboratórios da indústria fonográfica. O som, no entanto, ganhou com isso. Uma série de álbuns vigorosos, feitos de carne e sangue, alheios às tendências bárbaras, foram permeando a carreira da banda. Canções em que nos pegamos, sem querer, cantarolando pelas ruas. Uma sensação boa, de um mundo com possibilidades, de felicidade nas coisas pequenas e imprescindíveis; "you and i should ride the coast / and wind up in our favourite coats just miles away / roll a number write another song / like Jimmy heard the day he caught the train.
Em pouco mais de uma década de carreira, o OCS já fez cerca de onze álbuns, contando coletâneas e gravações ao vivo. O último a sair, o novíssimo A Hyperactive Workout for the Flying Squad, mostra que a 'pegada' da banda continua segura. Ouça 'Start of Day', 'Drive away' ou 'Free my name'. Ou ainda 'My Time', onde a veia soul - um dos pilares do som Mod - sobressai, e te deixa bastante triste se não tiver alguém especial ao lado pra dançar juntinho. Está tudo ali. Acordes mágicos em timbres que só uma Rickenbacker tem; o vocal rasgado e preciso; melodias que celebram o fato de estarmos vivos; rock'n'roll como deve ser. Uma vontade enorme de seguir em frente. Pegando o trem certo da história, é claro.
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Discografia recomendada: Moseley Shoals (1996), Marchin´already (1997), Songs from the front row - coletânea (2001), North Atlantic Drift (2003), A hyperactive workout for the flying squad (2005).