Arctic Monkeys, a 'banda' dos últimos 15 minutos
por Miguel Cordeiro
Não é das tarefas mais fáceis definir com precisão o que seja Pós-modernismo. Cada teórico tem uma explicação própria e embasada sobre esse assunto. Uns sinalizam como algo criado numa época em que os dogmas modernistas do início do século 20 não mais se aplicam. Outros como algo repleto de referencias da trajetória da cultura com um quê de alegórico e com possibilidades de reprodução múltiplas.
Não é das tarefas mais fáceis definir com precisão o que seja Pós-modernismo. Cada teórico tem uma explicação própria e embasada sobre esse assunto. Uns sinalizam como algo criado numa época em que os dogmas modernistas do início do século 20 não mais se aplicam. Outros como algo repleto de referencias da trajetória da cultura com um quê de alegórico e com possibilidades de reprodução múltiplas.
Mas existe um fenômeno que dos anos 1990 para cá recrudesceu e se tornou típico da era pós-moderna que é o caráter cada vez mais efêmero e passageiro de determinada “coisa” cultural. Algo assim como o que foi profetizado por Andy Warhol naquela sua máxima de que no futuro as pessoas seriam famosas por apenas quinze minutos. E é daí que vemos proliferar o tal do “hype”.
O hype é aquele famoso endeusamento que gira em torno de alguém ou de um trabalho por um período de tempo e que, quase sempre, não se falará mais nele no próximo ano ou será esquecido nas próximas estações. O certo é que na música pop (incluindo aí o rock, claro) é onde esse fenômeno do hype se faz mais presente entre todas as manifestações culturais dos nossos dias. A cada momento alguém ou algum grupo é elevado à categoria “da melhor coisa dos últimos anos”. E se esta afirmação parte de algum órgão ou personalidade incensada da imprensa musical, de preferência londrina, todo mundo dá respaldo ao que foi dito. E engraçado é a forma como este fenômeno se manifesta em lugares provincianos – Brasil, por exemplo, onde colunistas quase sempre deslumbrados correm atrás da “novidade” da metrópole e macaqueiam e copiam ipsis letteris aquilo que lêem nos tablóides londrinos. E mais surpreendente ainda é que esta cadeia de deslumbramento se espalha na província onde os formadores de opinião regionais, por sua vez, macaqueiam e transcrevem ipsis letteris aquilo que leram nos cadernos de cultura do sul do país. Os comentários elogiosos se repetem sucessivamente saindo da esfera da matriz e chegando aos redutos regionais com as mesmas palavras e considerações.
Alguém ainda lembra do Libertines? Saudada como a oitava maravilha do rock poucos anos atrás pelos tablóides ingleses e colunistas musicais brasileiros, o grupo viu sua reputação cair por terra quando se apresentou num festival em São Paulo onde ficou comprovado ser uma banda extremamente limitada. E será que Neil Young seria ouvido pela geração Nirvana não fossem os elogios da turma de Seattle (uma das cenas mais hypadas da história do rock) ao roqueiro dinossauro? Um segmento que também teve um hype intenso foi o indie rock, sendo que algumas dessas bandas ainda são muito incensadas mesmo lançando álbuns medíocres.
Outra premissa para ser devidamente hypado é a pretensão demasiada de um determinado trabalho. Aquela velha história de querer reinventar o rock tem um forte apelo e muito agrada aqueles que procuram “arte” na música pop. E aí hypados também são as misturebas, os “novidadeiros”, os que buscam influências exóticas e, os piores de todos que são aqueles que se julgam artistas sérios.
O cinema, também, tornou-se um fator que ajuda a se criar um hype em cima de um estilo ou uma personalidade. O que seria da contagiante surf music não fosse o Pulp Fiction de Tarantino? E o hype em cima de Bob Dylan por causa do documentário No direction home, de Martin Scorcese? Quantos jovens roqueiros antenados antes torciam o nariz para Dylan, tachando-o como “aquele chato cantor caipira da voz fanha”? E quantos outros passaram a admirar o sertanejo fora-da-lei Johnny Cash em decorrência dos seus albuns produzidos pelo hypado Rick Rubin? O que prova que nem tudo que é hype seja necessariamente passageiro e ruim. Pixies, White Stripes, Strokes são artistas incensados, mas construíram ou estão construindo uma poderosa obra que justifica o ôba-ôba em torno deles.
Mas o que falar de outros de maior grandeza que não se encaixam neste deslumbramento midiático? Figuras como Van Morrison e Joni Mitchell parecem que jamais serão tratados com a mesma deferência que se dispensa a hypados como Beck ou PJ Harvey.
E a lista é grande e não pára por aí. E não deixa de ser hilário acompanhar e observar a sucessão de grupos e artistas que se alternam no topo do hype, numa versão pós-moderna da tragédia que retrata uma “ascenção e queda”. Portanto, ouvidos atentos e bolsos recheados porque agorinha mesmo, neste exato momento, uma nova sensação musical está surgindo e aquele CD que você comprou daquela banda hypada da última primavera/verão de Londres já não faz mais nenhum sentido.