Vamo batê lata?


Paralamas e Los Hermanos, sob as bençãos da mpb

por Marcos Rodrigues

Há 20 anos, desde que música pop feita no Brasil começou a fazer sentido para as lógicas de mercado, que uma cruzada paralela foi montada por nobres cavalheiros, zelosos que são, para não perdermos os rumos da nossa, lá deles, 'identidade' musical. Eram meados dos 80 e os ecos atrasados da revolução de 77 ameaçavam o lugar tranquilo e confortável da soporífera MPB.

Armados com os discursos da latina américa colonizada, mas que não perde la ternura jamais, e amparados pela nascente ladainha dos Estudos Culturais na Terra Brasilis, cortesia do antropólogo Hermano Viana (sim, irmão do Herbert), um corolário que decidia onde estavam nossas raízes preconizava a legitimidade dos nossos sons no tripé Jamaica, África, Bahia. A mais reluzente das trilhas sonoras desse enredo se chamava 'Selvagem', dos Paralamas do Sucesso.

Engrossando o caldo, um apadrinhamento dos 'pretos' brasileiros blindavam os que faziam a 'música adulta'. Um pouco de Gil, outro de Tim Maia, outro tanto de Benjor. Agora sim, diziam. Habemus rock brazuca. Não importava se Tim, por exemplo, fazia música norteamericana. E muitos se sentiram perdendo o bonde da história. Aquele mesmo que um dia foi parar em Recife.

Madagascar, Olodum, Alagados, Trenchtown, Favela da Maré. A arte de viver da fé. Só não se sabe fé em quê. E assim, cantando a periferia do mundo, os Paralamas que também vieram da jeunesse dorée formada por filhos da aristocracia de Brasília, e que montaram uma banda por que um dia escutaram os ingleses do Police, Clash e UB40, nos diziam o que era o Brasil. Revelação marcante esses dias na revista Bizz; os rumos haviam mudado quando viram Luis Caldas cantando 'Fricote' com Carlinhos Brown na percussão, em cima de um trio elétrico: eureka! Uma razão para viver, uma culpa para expiar.

Não é de hoje que a penúria desses tristes trópicos faz essa gente bronzeada ter que procurar seu valor. Oswald de Andrade e o Manifesto Antropofágico, Macunaíma, Tropicália, Maracatu Atômico, Paralamas, Mangue Beat, Regina Casé...A cruz judaico-cristã deve explicar porque só é Brasil de verdade o que é próprio da condição terceiromundista, a saber, aquela dos fracos e oprimidos.

Vamo batê lata? No, thanx.