Hüsker Dü, Warehouse: Songs and Stories

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por Sergio 'Cebola' Martinez


Foi com este álbum duplo de 1987 que conheci o Hüsker Dü, trio de Minneapolis que antecipou em anos a urgência roqueira que se estabeleceu a partir da década seguinte, catalisada pelo grunge de Seattle, e que deu as cartas no período. De raízes punk, mas com um pé nas melodias sixties, o Husker Dü é mais uma daquelas bandas que, apesar de nunca terem sido hype (eta palavrinha enjoada!), influenciou gerações de bandas anos afora. Seus álbuns anteriores, mais viscerais, agressivos e sujos, sempre possuíam uma pontinha de melodias doces, folk, quer dizer, folk punk, se é que este monstro existe. Era como se os Byrds, ou até os Beatles, tivessem algo a ver com o levante de 76. Bob Mould, guitarrista, influenciou, com seu estilo entre sutil e explosivo, delicado e esporrento, gente do quilate de Black Francis, Kurt Cobain, Paul Westerberg e tantos outros. A "cozinha", por conta de Grant Hart (bateria, composições e vocais) e Greg Norton (baixo) era nervosa, pesada e precisa, como tem que ser. Formados nos idos de 79, foi, lado a lado com os Replacements de Paul Westerberg, a banda que uniu a urgência punk de Buzzcocks, Pistols e Ramones, àquela maravilha, então esquecida, dos anos 60, os Byrds de Roger Mcguinn e David Crosby. Imagine um REM punk, é mais ou menos por aí.

Mas a perfeita união de todos estes elementos, o ponto onde essa idéia se consuma com perfeição, em uma coleção irretocável de canções é neste disco gravado no segundo semestre de 86 e lançado no ano seguinte. O Zen Arcade de 84 é normalmente considerado sua obra prima. Também duplo (vinil duplo), era um álbum mais experimental, conceitual, extremo. Vai de baladas acústicas à demência psicodélica sem cerimônias. Mas em Warehouse: Songs And Stories, as canções de Bob Mould e Grant Hart se intercalam compondo uma coleção de pequenas gemas pop, em uma saudável competição entre os dois "cabeças" da banda, cada qual cantando sua composição. O título, exato, já dá a dica do que é o disco: Um "armazém" de canções, de estórias, de doces melodias, guitarras por vezes emulando dedilhados byrdianos, por vezes saturadíssima e distorcida, mandando ver em riffs e fraseados marcantes, "grudentos" e precisos. E com versos alternando paz, melancolia, esperança, frustrações e redenção. É como uma coletânea, apenas uma reunião de canções, mas cujo frescor e beleza dão de dez em muita pretensão "artística" cabeçuda que permeou os anos 80. Somente rock´n´roll, como se diz por aí.

Eu poderia ficar durante horas falando deste disco, foi muito importante pra mim, e, acredito, pra todo o rock das décadas seguintes, mas em Warehouse, o ponto é a simplicidade e concisão, apesar de duplo, além da honestidade. São vinte canções para aprender e cantar. Se você é daqueles que ainda se arrepia ouvindo uma melodia tocante, que se emociona com uma letra que parece falar pra você pessoalmente, que ainda acha ser possível encontrar perfeição em uma musiquinha de três minutos, que não liga se seu amigo te diz que você está ultrapassado e decrépito por gostar deste velho cinquentão chamado rock´n´roll, que acha, como eu, que ninguém, NINGUÉM, nem jornalista antenado, nem indie descolado, nem maracatueiro empertigado, nem eletrônico plugado, ou eclético descabelado, tem a chave do que se passa dentro de você, do que você acredita ou deixou de acreditar, do que você precisa ou não suporta mais, dê um tempo, relaxe, curta o Warehouse...ele é pra você.