Placebo | Salvador 17.04.2005

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por Marcos Rodrigues

Placebo tocando em Salvador é quase um sonho. Não porque a banda seja a quintessência do rock'n'roll atual, mas porque Salvador tão depauperada culturalmente, tão folclorizada nas últimas décadas, vai ter um show internacional de uma grande banda. Já tivemos por aqui Nina Hagen, Information Society, A-Ha, Nazareth, todos em fase decadente. No próximo domingo, no entanto, no palco da Concha Acústica do TCA, às 17h, precedidos por cinco bandas de Salvador, aporta o rock de uma banda inglesa, no seu auge.

A banda do andrógino Brian Molko é uma ave rara no atual cenário de rock'n'roll no mundo isolada que está, sonoramente falando, de outras bandas contemporâneas. Com uma formação bastante cosmopolita, o grupo que além de Molko, guitarra e vocal (nascido Belga, crescido no Líbano e Luxemburgo) tem também o exótico baixista sueco Stefan Olsdal e o baterista inglês Steve Hewitt. Os caras viviam rodando a Europa entre cursos de interpretação teatral, guitarra e formação básica. Molko e Olsdam se conheceram num colégio em Luxemburgo e se reencontraram anos depois em Londres, onde resolveram montar a banda. Dai os diversos idiomas que a banda fala e as versões em francês impecável de algumas músicas.

A princípio, o som não tem nada de mais. É apenas uma banda competente, com um som vigoroso e arranjos de uma simplicidade beirando o punk rock. É justamente ai que reside a qualidade principal do grupo. Levando ao extremo a máxima de que 'menos é mais', o Placebo vai se impondo em estruturas simples e elegantes, timbres sofisticados, riffs de guitarra diretos num padrão diferente de afinação (F Bb Eb Ab C C), bases seguras e a voz muito particular de Molko. No mais, é uma síntese muito consistente e contemporânea do glam rock, do punk e dos climas sombrios do pós-punk inglês.

A banda apareceu no cenário mundial em 1996, com um disco homônimo e entrando direto no quarto lugar das paradas inglesas com a música 'Nancy Boy'. Logo depois estavam sendo convidados por David Bowie, ele mesmo, para tocar no Madison Square, em Nova York, junto com Sonic Youth, Lou Reed, Billy Corgan (Smashing Pumpinks, Zwan), Frank Black (Pixies), Robert Smith (The Cure) e Foo Fighters. Eram os convidados para a festa de aniversário de 50 anos de Bowie. Em 1997, o Placebo abriu alguns shows da turnée européia Popmart, do U2, e receberam de Michael Stipe (R.E.M) o convite para atuarem no polêmico filme Velvet Goldmine, que falava sobre o Glam Rock com o foco na vida de Bowie. Stipe era o produtor e o Placebo atuou tocando, entre plumas e paetês, 20th Century Boy, do T.Rex, clássico da era glitter. David Bowie viria ainda a fazer algumas participações em shows do Placebo e, mesmo, a gravar com a banda.

Em 1998, envolvidos numa atmosfera depressiva de Molko e brigas com o produtor, lançaram Without You I'm Nothing. Um disco mais intimista, com climas densos; "elementos de melancolia e de coração partido", segundo Molko. Três anos depois sairia o fabuloso Black Market Music, onde o Placebo reencontra a energia do primeiro trabalho com toda a sofisticação e personalidade já adquirida pela banda. Sleeping With Ghosts (2003) confirma o disco anterior e catapulta o Placebo para o hall das grandes bandas inglesas, com uma sequência de hits e vídeos impactantes. Em 2004 sai a coletânea de singles da banda com o sugestivo nome, Once More With Feeling. Uma boa oportunidade para que quiser dar um geral na carreira da banda até agora.

Voltando à Salvador, o Placebo passa por aqui numa sequência de shows que ainda incluem Recife, Porto Alegre, Florianópolis, Brasília, Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Todas as cidades terão cinco finalistas do festival Claro que É Rock abrindo os shows, e ainda diputando vagas para a finalíssima em setembro. As bandas que abrem a etapa de Salvador são: Brinde, Los Canos, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, Canto dos Malditos na Terra do Nunca e a Theatro de Séraphin (deste imodesto escriba que vos incomoda).

Portanto, mais do que uma geral na vida e obra da banda Placebo, este post é uma convocatória. Para os que estão em Salvador, e mesmo que não sejam grandes fãs do Placebo ou torçam a cara pra uma banda que o vocalista parece uma garota, compareçam à Concha Acústica e vamos tentar fazer barulho para que esta terrinha possa entrar, um pouco que seja, no circuito de rock que varre o mundo.