The Byrds. Oito milhas além.

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por Sérgio 'Cebola' Martinez

Bob Dylan, o bardo folk (até então) americano outsider por excelência, e seus violões característicos; The Beatles, a invasão inglesa em seu primeiro momento, rock puro, frescor adolescente, histeria coletiva e guitarras rickenbaker arrepiando os puritanos da "verdadeira" música anti-establishment. Roger McGuinn, um cara que participava ativamente deste circuito folk, mas que também gostava das canções dos Beatles. E foi em 1965 que aconteceu. Com uma Rickenbacker 12 cordas no pescoço, uma canção de Dylan, Mr. Tambourine Man, e as harmonias do quarteto inglês na cabeça, é descoberta uma fonte que mais tarde se revelaria inesgotável.

O Folk-Rock do The Byrds, de Mr.McGuinn (guitarra, vocais), mais David Crosby (guitarras e vocais), Gene Clark (vocal), ChrisHillman ( baixo ) e Michael Clarke ( bateria ), influenciou tanta gente, inclusive Dylan e Beatles, dos anos 60 até hoje, que dá pra afirmar ser esta, na minha humilde opinião, a banda americana mais importante de todos os tempos. Seus dois primeiros discos, respectivamente, Mr. Tambourine Man e Turn Turn Turn, são pedras fundamentais do folk-rock, com sua tapeçaria de violões e guitarras envolvendo os vocais harmoniosamente brilhantes de Crosby, McGuinn e Clark.

Formada em 1964, os Byrds entraram para a história como os criadores do folk rock, mas sua música se estendeu para muito além de um rótulo limitante. Se nos dois primeiros LPs ( Lp, lembram disso? ), a direção era ainda esta, no terceiro parecia que tinha "algo mais" trabalhando na cuca dos passarinhos. No terceiro disco, Fifth Dimension, canção Eigh Miles High, com seu clima etéreo, virou motivo de polêmica por, supostamente fazer alusões a substâncias ilícitas, fato negado por seus membros. Mas o que realmente importa é que já é marcante a incorporação de elementos estranhos à sua música. O solo de McGuinn
nesta canção, por exemplo, foi uma tentativa de transpor para a guitarra as viagens sem amarras do sax do jazzista John Coltrane, um ídolo confesso. É um grande disco, lançado em 1966, forjando as bases da psicodelia no mesmo ano em que os Beatles lançavam o seu fabuloso Revolver, um outro pilar.

Younger Than Yesterday foi o aperfeiçoamento e consolidação dessa nova direção experimental. Sem abandonar completamente suas raízes musicais, O Byrds se renova e se reinventa neste que é considerado seu maior trabalho desde o Mr Tambourine Man. Incursões por efeitos eletrônicos, utilização de recursos de estúdio ao máximo, ruidos, além de, é claro, suas indefectíveis harmonias e melodias já clássicas, este disco de 67 marca o auge do Byrds psicodélico. É dele a antológia So You Want to Be a Rock n' Roll Star, um sarcástico panorama sobre a busca da fama.

O auge mas não o fim. Em 68 é lançado outra obra prima, pelo menos para este que vos escreve. The Notorious Byrd Brothers é um grande disco, sem dever nada ao seu antecessor. O Folk-jazz-country-rock & psicodelia continua presente, em um disco que marca a saída de David Crosby, apesar de ser dele quase metade das canções. Na capa, no lugar de David, um cavalo, simpático, não? Logo após o lançamento, Michael Clarke também deixa a banda. Essas duas saídas causariam o segundo redirecionamento estético/musical da banda, com a chegada de Kevin Kelley e...Gram Parsons.

Influenciados pela personalidade marcante de Parsons, Sweetheart of the Rodeo é um fantástico album de...country rock. Isso mesmo, o country sempre esteve presente em um ou outro momento nos discos anteriores, mas desta vez torna-se a opção predominante. Lançado ainda em 68, divide opiniões entre os que acham que o Byrds deveriam continuar suas experiências vanguardistas e os que aprovaram com louvor a nova opção. Mas, acredite, é um disquinho muuito bom, sem concessões, e pode ser, talvez, enquadrado na categoria daquelas bandas que voltaram ao básico em 68, como Stones e Beatles, citadas por Osvaldo no post do The Band no blog irmão Rock Loco.

Em 69, já sem Parsons, eles lançam Dr. Byrds & Mr. Hyde, com uma definitiva versão de This Wheels on Fire, de Dylan e Ballad of Easy Ryder, sendo este último bem superior ao primeiro. Ouça a faixa título e entenda o motivo da banda ainda ser necessária ao mundo. O Ballad...e o Untitled, de 1970 são, aliás, os últimos grandes discos dos Byrds. Todos eles contavam com um novo guitarrista, o fantástico, vindo das hostes country, Clarence White. Os álbuns seguintes são irregulares e não acrescentaram muito ao legado da banda. Em 73, nove anos após decolar, The Byrds deixa para seus seguidores o trabalho de levar em frente a sua música.

Se for pra baixar tudo, ótimo, vale a pena. Se quiser uma seleção, pega o Mr. Tambourine Man, o Younger Than Yesterday, O Sweetheart of the Rodeo e o Untitled que tá de bom tamanho, e abrange as diversas fases.